Maria Amélia Mano
Quem hoje ouve o que
eu canto
Sabe um tanto do que eu sou
Pois é que a vida se me envolve,
Me devolve num verso assim
Sabe um tanto do que eu sou
Pois é que a vida se me envolve,
Me devolve num verso assim
Num
verso assim...
Então,
os meninos resolveram voar...
Contra
todos os ventos, contra a correnteza, em subida íngreme, contra todas as
expectativas. Brigam e se equivocam, disputam e se excluem. Falta coragem,
falta segurança, falta tênis. Falta mais, mas não falta paixão, canção, som,
suor na rua, na rua.
Que é feito coisa que
não se fala
Mas não cala dentro de mim
Porque eu bem sei, o meu canto é som
É como eu sôo mais do que sou
Mas não cala dentro de mim
Porque eu bem sei, o meu canto é som
É como eu sôo mais do que sou
E
como fazer canto assim, de atravessar fronteira. Fronteira de ser menino.
Fronteira de vir de chão de terra e, tal qual nômade, mudar para asfalto que
guarda tiros noturnos. Sair do mundo conhecido e voar em outros mundos
estranhos. Num verso assim, assim.
Então,
os meninos resolveram cantar...
Quem
ouvirá...
Quem ouvirá
Quando eu me fizer cantar
Enquanto minha voz puder soar
Será, meu bem, a minha condição
Meu viés, ter meus pés, noutro chão
Quando eu me fizer cantar
Enquanto minha voz puder soar
Será, meu bem, a minha condição
Meu viés, ter meus pés, noutro chão
Porque
canto e voo de menino é poema. Que nem “a mulher de nuvens”, do poema de Gullar
que se foi, sem querer sofrer. Um poeta a menos no mundo. Um mundo de grandes
planos que decepcionam. Um mundo de pequenos que emocionam. A lágrima. Quem
ouvirá, ouvirá.
Então,
os meninos resolveram tocar...
E
minh’alma toca...
Onde eu piso e
minh'alma toca
E provoca meu verso enfim
É que essa sede é o que me salva
Das ressalvas que o mundo faz
E provoca meu verso enfim
É que essa sede é o que me salva
Das ressalvas que o mundo faz
Toca.
Toque. O menino toca na foto de si, em manobra nas nuvens. O menino tem orvalho
nos olhos e nos ensina a chorar em público. Sem vergonha da beleza de ser. Sem
receio da alegria. Sem culpa do orgulho. Como filho nosso da alma. Onde eu piso
e minh’alma toca, toca.
Então,
os meninos resolveram chorar...
Aos
céus...
Ao meu fim, ao amor,
aos céus
E a sorte de viver
Será pra quê,
Se eu não cantar
Pra quê será
Se eu quiser esquecer
Do que me faz
E me refaz
E me revela e me acerta em cheio
Quando o feio é belo em mim
Sou eu quem pinto o meu espelho
E clareio o que é ruim.
E a sorte de viver
Será pra quê,
Se eu não cantar
Pra quê será
Se eu quiser esquecer
Do que me faz
E me refaz
E me revela e me acerta em cheio
Quando o feio é belo em mim
Sou eu quem pinto o meu espelho
E clareio o que é ruim.
Céu
que se refaz. Tempo que se desfaz. Clarear mais o dia que inunda o voo, o
canto, o toque, o choro. O choro nosso e do menino que ganha e é verso, alma no
meio do azul. E olhamos para o que nos faz maiores, melhores, o que nos faz
voar, o que nos faz meninos, meninos.
Poemas/música: Quem Ouvirá -
Daniel Altman/Diego Casas
https://www.youtube.com/watch?v=oGGCtQS_BgE
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?