Maria Amélia Mano
É a mulher com câncer de
colo de útero que quer ser mãe pela última vez. É a mãe que chega pra fazer
exame ginecológico com três crianças pequenas querendo brincar. É convulsão, estridor laríngeo e susto sem adrenalina. É a confissão da fome. É o homem que
quer um atestado para não voltar para a prisão. É solidão. É menino que apanha da mãe e
chora porque vai rodar de ano. Pede ajuda. Como contar o fracasso?
Então, é tempo de (me) dar pausa.
Sair um pouco desse universo que respiro e que me inspira, que me cansa e me
renova, mas também me envelhece com o tempo que passa com e apesar de mim e
apesar do desejo de, às vezes, congelar o segundo. Como contar o tempo?
Burocracias. Papeis intermináveis que desejo desenhar, picotar, transformar em confete. Reuniões intermináveis com
pautas úteis e inúteis que confundem. Nem sempre sei que posição defender. Pelo
que vale a pena brigar. E nem sempre modero minhas ironias, minhas agonias, nem
sempre (des) necessárias. Como contar agonias em gotas, conta-gotas, conta-lágrimas?
Mas, agora, é tempo de
esperar que o tempo admita o sono até mais tarde e o sonho renovar e se renovar e me renovar em mais
tempo livre. Mereço. Merecemos. Foi tempo árduo de escola, sempre, de aprender
e ensinar, trocar provas, palavras escritas e apagadas e energias. Como contar cansaços e cada linha de confissão registrada?
E é leitura, artigo, aula
e trânsito parado. No meio de tudo, tiros na rua. Invasão, ameaça de expulsão.
Disse que me disse. Muito e nada dito. Desdito. Desencontros de amigos e
desentendimentos pequenos, tão pequenos diante de tanta fumaça no ar, tanta
violência na rua, tanta gente sem casa. Como contar a estatística que nos banha
de sangue os jornais, mas diz pouco da noite iluminada das vilas, dos sonhos e das insônias
de quem tem medo?
E suspiro porque sei que
vou voltar. Depois do descanso. Depois da pausa. Depois da rede armada em céu
azul de esperança e preguiça. Caminhada na praia. Tambaú e Iracema. Ponta Negra.
Reencontro amigo com os sons de carnaval de rua e novas palavras em cada pedra
pisada e pulada. Novas histórias. Como contar essas férias? Depois, eu conto.
Conto como as contas desse verão. Rosas e rosários, sem horários. Como os cantos, os (meus) quatro cantos. Quatro câmaras do coração.
Foto: pré carnaval em Olinda 2016 - Quatro Cantos
Texto: expectativa de férias!
Texto: expectativa de férias!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?