Eymard Mourão
Vasconcelos
Vivemos sob um imaginário que coloca o
constante progresso, pessoal e social, como o grande valor. Assim, realização e
desenvolvimento dependem de persistente esforço no investimento no nosso
aperfeiçoamento e na lapidação da positividade de nossa imagem na sociedade.
Esforço e mais esforço centrado em si e em nossa autopreservação.
Nossos grupos passam a ser instrumentos
de nossa expansão.
Mas se puxarmos em nossa memória por
aqueles momentos ou fases da vida em que experimentamos o mais elevado nível de
paz, satisfação e felicidade, verificamos que eles não foram períodos em que
possuímos algo especial, mas, em que nos perdemos em algo ou em alguém. E o,
que fomos, fluiu.
A realização mais plena passa pelo
acolhimento e pela entrega ao que está fora de nós. Pelo desapego ao esforço de
cuidado para com nossa expansão pessoal. E desapego para com a preocupação com
a autoimagem.
Ser apenas o que se é. Apenas ser. Isso
é muito. Há uma grandeza que fica abafada pela ansiedade de ser o que não se é,
tolhendo nossa abertura de acolhimento ao outro. Uma grandeza que floresce com espontaneidade,
de forma surpreendente, quando se é instigado pelo outro próximo.
Ser apenas o que se é. Controlar a
vaidade. Pobreza de espírito. Tudo o que é fundamental ter é o que eu sou e as
relações que estabeleço a partir dessa atitude desvestida.
Apenas ser. Bens, reconhecimentos,
títulos e conhecimentos especiais podem ajudar, contanto que a ansiedade de
conquistá-los e mantê-los não me tire da simplicidade do que eu sou.
Retirar a atenção e a preocupação sobre
si, para apenas ser. Isso não é descansar. Há muito o que fazer, mobilizado
pelos outros ao redor. Não há nada mais difícil do que aprender a tirar a
atenção de nós mesmos. O aprendizado para nos centrarmos no outro é uma disciplina.
A meditação baseada no silêncio
interior, ao procurar afastar a mente da infindável elaboração mental interior
e das preocupações, é um grande exercício. Aproxima nossa mente da experiência
de perceber o que simplesmente somos.
A convivência social também tem forte
pedagogia em direção à pobreza de espírito, se acolhemos e valorizamos as
críticas, de amigos ou inimigos, justas ou injustas, bem elaboradas ou
grosseiras, que estamos sempre recebendo. Os outros vêm melhor nossas sombras.
Benvindos nossos inimigos e nossos críticos. Mas isso exige duro desapego com
nossa imagem social.
Doenças, limitações, fracassos,
envelhecimento, impotências podem também nos tornar mais conscientes da ilusão
da busca de ser com muitos adornos e pompa. A morte, que se aproxima, anuncia a
transitoriedade de qualquer bem além daquele que é apenas ser e bem conviver.
Minhas precariedades podem, assim, me
ajudar a ser mais: ser o que sou. E, desse modo, assistir e se surpreender com
a potência criativa e amorosa que se pode manifestar. Aí experimento um
progresso não planejado e conquisto aberturas imprevisíveis.
Experiências desse tipo vão dando
confiança para aprofundar o processo de desapego com a autoimagem e o acúmulo
de conquistas pessoais por esforço centrado no desenvolvimento individual. É
preciso muita confiança para ir contra o que parece ser o grande valor
contemporâneo.
Texto elaborado por Eymard a partir de
reflexão de Laurence Freeman, da Comunidade Mundial de Meditação Cristã (fonte: http://www.wccm.org.br/ ),
com a finalidade de torná-la mais adequada à sua própria jornada de
aprendizagem.
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