08 junho 2019

DE MÃOS VAZIAS

Maria Emília Bottini

Sou interessada pela temática da morte e do morrer, assunto que me faz pensar no sentido que a vida tem. O que estamos de fato fazendo por aqui e qual seria nosso papel a desempenhar? Cedo ou tarde a morte nos encontrará na esquina da vida, onde sempre está a nos espreitar, nos acompanhar fiel e inseparável, mesmo que por vezes dela nos esqueçamos.
Li esta pequena história dia desses no facebook, postado por uma colega psicóloga.
Perto de morrer, um velho bilionário chamou sua secretária e disse:
- Estela, quando eu morrer quero que realize apenas três pedidos em meu sepultamento, ok?
A secretária surpresa, respondeu:
- Sim senhor! Seus desejos serão realizados.
Em seguida ela pegou um bloco de notas e uma caneta e disse:
- Vou anotar para não me esquecer deles, Senhor. Pode falar!
Ele respondeu:
- Pois bem! Vamos aos meus desejos:
1º) quero que meu caixão seja carregado pelos melhores médicos que existem;
2º) que os tesouros que tenho, sejam espalhados pelo caminho até meu túmulo;
3º) que minhas mãos fiquem no ar, fora do túmulo e a vista de todos.
Sua secretária, surpresa com os três pedidos, perguntou:
- Senhor, desculpe a curiosidade, mas quais são os motivos de tais desejos?
Ele respondeu, são somente três também:
1º) quero que os melhores médicos carreguem meu caixão, para mostrar que eles não têm o poder de curar na face da morte e quando chegar a hora de cada um, ninguém muda o destino.
2º) quero que o chão seja coberto pelos meus tesouros, para que todos possam ver que os bens materiais aqui conquistados e adquiridos, aqui ficam.
3º) quero que minhas mãos fiquem para fora do caixão, de modo que as pessoas possam ver que viemos com as mãos vazias, e saímos de mãos vazias, pois ao morrer você não leva nada material.
Uma historieta simples, mas cheia de lições que podemos aprender ainda em vida.
Talvez já tenhamos pensado no quanto são insignificantes certas coisas que fazemos e nos implicamos em vida; diante da morte a maioria das coisas toma a dimensão de insignificância.
O que desejamos quando da proximidade da morte? Que coisas vamos poder levar de nós mesmos? Absolutamente nada do que materialmente conquistamos é levado, quiçá o que somos.
Muitos pacientes terminais, diante da morte, querem mais tempo, não para fazer compras em shopping, em concessionárias ou mesmo imobiliárias. Anseiam mais tempo para dizer aos entes queridos que os ama. Dizer ao filho que entende suas escolhas. Abraçar o irmão com quem não fala há alguns anos. Beijar a neta que não conhecia. Agradecer a um amigo pela feliz oportunidade de tê-lo encontrado nos caminhos do viver. Fazer o que não foi feito, dizer o não dito...
É difícil pensar na morte porque para nós ela sempre está no outro. É doloroso pensar que partiremos para o desconhecido, para a escuridão do não saber. De vez em quando é salutar uma reflexão a respeito do morrer, pois como alerta-nos Gibran: “Quereis conhecer o segredo da morte. Mas como podereis descobri-lo se não o procurardes no coração da vida?”.
A vida é nosso bem mais precioso e dela abriremos mão qualquer dia e partirmos de mãos vazias.


[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das 10 aos Sábados]





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