Maria Emília Bottini
O mundo
moderno cria novas e instigantes situações e comportamentos que nos fazem
refletir para onde andam nossas vidas e a educação de nossas crianças. Os pais
relatam que seu filho de apenas sete anos está profundamente triste e frustrado.
Qual o motivo? Ele nesta tenra idade está sob forte crise emocional de birra porque
desejava um celular. Sim, o fundamental
e necessário celular, pois seus compromissos e obrigações são imensos.
Diante deste
relato, percebe-se a mudança dos tempos, nem é questão de questionar se são
bons ou ruins esses tempos. Ou seja, havia um tempo em que crianças eram
crianças, brincavam de bonecas de pano, carrinhos de rolimã, subiam em árvores,
brincavam de pega-pega, de cabra-cega, de esconde-esconde... Aposto meu pequeno
reino que muitas crianças nunca ouviram falar de tais brincadeiras.
No entanto,
hoje as crianças “querem”, “desejam” um celular, um computador, um vídeo game.
Será que
querem mesmo? Ou são frutos dessa sociedade de consumo que produz em nós,
adultos e crianças, desejos insaciáveis e infinitos de comprar, de ter.
Não quero
afirmar que sou contra a abundante tecnologia a nossa disposição, porém há que
ter limites, esses nem tão fáceis de estabelecer em nós, quanto mais em
crianças vorazes consumistas e salientadas em campanhas publicitárias com
mensagens subliminares.
Limites esses
que nos fazem pensar que nem tudo que desejamos na infância ou em qualquer fase
da vida teremos. Portanto, o desejo de uma criança de sete anos por um celular
é questionável.
Qual sua real
necessidade? Que tanta utilidade terá em suas mãos?
Ficaria
imensamente feliz se essa criança desejasse livros infantis, uma escola melhor,
uma infância saudável, pais que lhe dessem atenção e colo afetivo quando dele
precisasse, limites firmes com sinônimo de proteção e respeito.
Parece-me que
o consumismo vence a todos, inclusive os pais em seus múltiplos apelos. Há que
pensar se não estamos apenas incluindo nossas crianças nessa sociedade via consumo
e não via suas infinitas qualidades humanas que estão longe do que temos e do
que podemos comprar. Como a nós, adultos, é imposto o trabalho, o ganhar
dinheiro, praticamente não temos tempo para perder com crianças, apesar de elas
exigirem e desejarem nossos colos e tetas gordinhas. Porém, como não estamos
tão disponíveis porque não temos tempo, então lhes compramos não só celulares,
mas outras tralhas para que lhes confortem nossa ausência.
Bem, isso
funciona por um tempo, elas se entretém com os novos objetos, com as novas
roupas; no entanto, essa “ocupação” logo dá vazão a outro desejo e assim
sucessivamente, quando percebemos nos tornamos refém do consumo e de nossos
filhos, que por vezes se tornam tiranos e insaciáveis porque sua fome e
voracidade são de outra ordem.
Muitas vezes
saciada por um passeio no parque, um colinho, uma ida à reunião da escola, uma
olhada nas tarefas escolares, um abraço quentinho, uma historinha na cabeceira
da cama, um boa noite com um beijinho, um pedido de desculpas, um brincar, um
espaço na agenda... Bem, essas coisas não estão disponíveis no balcão de algum
shopping, mas é um balcão que abre por dentro onde estão o que nos custa caro,
mas que não pode ser pago em moeda corrente.
Reflita sobre
isso, se puder!
[Maria
Emília Bottini publica no Rua Balsa das 10 aos Sábados]
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