27 julho 2019

MAMÃE, EU QUERO! MAMÃE, EU QUERO!



Maria Emília Bottini


O mundo moderno cria novas e instigantes situações e comportamentos que nos fazem refletir para onde andam nossas vidas e a educação de nossas crianças. Os pais relatam que seu filho de apenas sete anos está profundamente triste e frustrado. Qual o motivo? Ele nesta tenra idade está sob forte crise emocional de birra porque desejava um celular.  Sim, o fundamental e necessário celular, pois seus compromissos e obrigações são imensos.
Diante deste relato, percebe-se a mudança dos tempos, nem é questão de questionar se são bons ou ruins esses tempos. Ou seja, havia um tempo em que crianças eram crianças, brincavam de bonecas de pano, carrinhos de rolimã, subiam em árvores, brincavam de pega-pega, de cabra-cega, de esconde-esconde... Aposto meu pequeno reino que muitas crianças nunca ouviram falar de tais brincadeiras.
No entanto, hoje as crianças “querem”, “desejam” um celular, um computador, um vídeo game.
Será que querem mesmo? Ou são frutos dessa sociedade de consumo que produz em nós, adultos e crianças, desejos insaciáveis e infinitos de comprar, de ter.
Não quero afirmar que sou contra a abundante tecnologia a nossa disposição, porém há que ter limites, esses nem tão fáceis de estabelecer em nós, quanto mais em crianças vorazes consumistas e salientadas em campanhas publicitárias com mensagens subliminares.
Limites esses que nos fazem pensar que nem tudo que desejamos na infância ou em qualquer fase da vida teremos. Portanto, o desejo de uma criança de sete anos por um celular é questionável.
Qual sua real necessidade? Que tanta utilidade terá em suas mãos?
Ficaria imensamente feliz se essa criança desejasse livros infantis, uma escola melhor, uma infância saudável, pais que lhe dessem atenção e colo afetivo quando dele precisasse, limites firmes com sinônimo de proteção e respeito.
Parece-me que o consumismo vence a todos, inclusive os pais em seus múltiplos apelos. Há que pensar se não estamos apenas incluindo nossas crianças nessa sociedade via consumo e não via suas infinitas qualidades humanas que estão longe do que temos e do que podemos comprar. Como a nós, adultos, é imposto o trabalho, o ganhar dinheiro, praticamente não temos tempo para perder com crianças, apesar de elas exigirem e desejarem nossos colos e tetas gordinhas. Porém, como não estamos tão disponíveis porque não temos tempo, então lhes compramos não só celulares, mas outras tralhas para que lhes confortem nossa ausência.
Bem, isso funciona por um tempo, elas se entretém com os novos objetos, com as novas roupas; no entanto, essa “ocupação” logo dá vazão a outro desejo e assim sucessivamente, quando percebemos nos tornamos refém do consumo e de nossos filhos, que por vezes se tornam tiranos e insaciáveis porque sua fome e voracidade são de outra ordem.
Muitas vezes saciada por um passeio no parque, um colinho, uma ida à reunião da escola, uma olhada nas tarefas escolares, um abraço quentinho, uma historinha na cabeceira da cama, um boa noite com um beijinho, um pedido de desculpas, um brincar, um espaço na agenda... Bem, essas coisas não estão disponíveis no balcão de algum shopping, mas é um balcão que abre por dentro onde estão o que nos custa caro, mas que não pode ser pago em moeda corrente.
Reflita sobre isso, se puder!


[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das 10 aos Sábados] 

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