Maria Amélia Mano
A palavra andorinha
Freme devagarinho
E some em silêncio...
Mário Quintana
A tua palavra lagoa deságua
no leito do meu rio, riso calmo e quente.
Nuvem que se precipita,
precipício pequeno doce descanso de água do céu. A palavra lagoa
nasce devagar e cobre, amorna, acalma, entorpece, relaxa, remexe com
passado de placenta e ventre. Mãe, âmnio, ânimo, anima, rima.
Antes do parto e do partir.
Massa d’água em que luz
penetra até fundo do corpo. Corpos d’água rasos para plantas
enraizarem e crescerem. Porção d’água sem ação de ondas na
margem. A palavra lagoa acolhe, lambe e cuida como se fôssemos
filhotes recém-nascidos.
Indefinida. Aberta para mar ou
não. Alimentada por nascente ou não. Sagrada ou simples charco,
poça, lama e mangue. A palavra lagoa é batismo em banho de balde,
bica molhando meninos nus. Água de chuva, de chão, de cheiro, de
choro. Lágrima.
Circular de cordão,
correnteza leve de vento. A palavra lagoa brilha, boia, flutua de
braços abertos olhando para o céu. Silêncio submerso de poesia
líquida e lírica, molhada de memórias de madrugadas, amares sem
amarras. Saliva, sumo, seiva e sede.
Bocas, lábios, luas, laços,
água que chega mansinha e de mansinho em sertão que se banha em
gota serena. A palavra lagoa te toca, te respira, te escorre, te
encharca, te engole, te pertence, te tatua, te marca, te faz dançar
e tremer.
Texto para a Oficina Santa Sede Mosaico
Ilustração: Yellena James
Ilustração: Yellena James
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