30 novembro 2019

O VENDEDOR DE BALÕES


Maria Emília Bottini

Certa vez ganhei de uma amiga da vida inteira o livro: Belas parábolas sobre sucesso de Alexandre Rangel, nele há uma pequena história que vale a pena ser compartilhada.
Era uma vez um velho homem que vendia balões numa quermesse. Evidentemente, o homem era um bom vendedor, pois deixou um balão vermelho soltar-se e elevar-se nos ares, atraindo, desse modo, uma multidão de jovens compradores de balões. Havia ali perto um menino negro que estava observando o vendedor e, é claro, apreciando os balões. Depois de ter soltado o balão vermelho, o homem soltou um azul, depois um amarelo e, finalmente, um branco. Todos foram subindo até sumirem de vista. O menino, de olhar atento, seguiu a cada um. Ficava imaginando mil coisas... Uma coisa o aborrecia: o homem não soltava o balão preto. Então, aproximou-se do vendedor e perguntou-lhe:
Moço, se o senhor soltasse o balão preto, ele subiria tanto quanto os outros?
O vendedor de balões sorriu compreensivamente para o menino, arrebentou a linha que prendia o balão e, enquanto ele se elevava nos ares, disse-lhe:
Não é a cor, filho, é o que está dentro dele que o faz subir”.
Gosto de pequenas histórias, do que elas podem em tão pouco nos dizer, nos fazer refletir para além de nossos limitados pensamentos diários, fragmentados sobre tudo e todos. Amo de paixão balões, sobretudo coloridos, acredito que a menina que vive em mim nunca os abandonou.
Essa pequena história me faz refletir que somos seres de preconceito, carregamos em nós a marca do julgamento que dói e desfere frases e atitudes que ferem e desmerecem os outros por tratarmos das diferenças com indiferença.
Parece que sempre nos julgamos melhores, mas será bem assim?
Como diz o vendedor é o que está dentro que faz subir os balões. Se pensarmos em pessoas como balões uns coloridos e outros sem cores, há as que sobem alto, muito alto cheias de generosidade, de compaixão, de amor e de doação e contribuem para que outras subam juntas e depois são soltas para seus próprios experimentos e voos.
Porém, há os que não sobem míseros centímetros do chão carregadas de ódio, de rancor, de solidão, de mágoas, de mau humor, ficam tão pesadas de conviver e por vezes a pesar na vida de outros e a segurar seus voos, suas existências.
O que temos dentro de nós que nos faz subir?
É uma boa pergunta diante de um mundo de possibilidades.
Ser mais humano, ser mais gente, talvez isso pudesse de alguma forma elevar nossa humanidade e com ela a humanidade de outros com cores, gostos, jeitos, escolhas diferentes do meu mundo e pelas quais deveriam minimamente respeitar e não condenar, acusar, maltratar...
Parece que tão somente precisamos ampliar nossos horizontes de percepção de mundo, em um mundo de muitas cores e que nelas possamos encontrar equilíbrios para continuar sendo verdadeiramente humanos mesmo que vendendo balões.

 [Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das 10 aos Sábados] 


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