Maria
Amélia Mano
A felicidade é como
a pluma
Que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve
Mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
Vinícius
de Moraes
Sábados
e domingos escaldantes e, nós, lá na mesma mesa a compartilhar cervejas, petiscos
e comentários picantes, malignos, magoados e politicamente incorretos próprios
dessa fase da vida. Dividimos as contas e as trapalhadas antigas e novas, contamos
e aumentamos os fracassos já que eles eram o centro da nossa união. Fizemos uma
lista memorável dos chatos que conhecíamos e dos mais enfadonhos acontecimentos
cotidianos que batizamos de Top 100 e não Top 10 já que nosso olhar apurado
para o lado ruim da vida conseguia enxergar mais do que o usual.
Éramos
um grupo que se mantinha vigilante para se fortalecer. Certa vez, após uma
curtida leviana em evento no facebook,
uma das amigas me mandou mensagem: “Como tu vai em almoço vegano? Os veganos
entram no Top 100!”. Verdade. Havia pautas específicas que iam desde a
candidatura do Brasil à Copa do Mundo até os políticos ridículos das eleições
de 2012. Tempos difíceis, pensávamos, inocentes e distantes dos fracassos do
Mundial e da democracia. Assim, passamos um longo verão rindo de nós mesmas,
sem perceber que havíamos encurtado o tempo de tempestade até que a bonança
chegasse. E ela chegou.
A
Dai encontrou um professor de dança de salão, esbelto, elegante e gremista. Foi
paixão e, em dois meses, já estava em viagem romântica para Cuba. Quando
voltou, começou a dançar bolero! Como assim? Foi um baque para nós. As coisas
desandaram. A Fê decidiu parar de tomar porres solitários e a Ju começou a usar
fluoxetina. Eu ia às reuniões de condomínio só e economizei para viajar no
verão. Mas não emagreci. Os encontros se tornaram raros, poluídos de namorados ou
sempre faltava uma de nós que, obviamente, tinha coisa melhor pra fazer.
Certo
dezembro, após meses de tentativa, conseguimos, nos reunir. A pauta era: o Internacional na segunda
divisão. Dai, apesar do conflito com o dançarino gremista, não bebeu para
manter o peso. Eu bebi por ela. Culpa do calor. Rimos muito. Cheguei em casa e liguei
o Split em 21 graus e coloquei uma música. Ouvindo Felicidade, conversei com
Vinícius, com saudade leve de um tempo ruim e bom. Poetinha, poetinha, se me
permite discordar, você se enganou. Tanto quanto a felicidade, tristeza também
tem fim. Tudo tem vida breve e tudo de leve oscila.
Texto para a Oficina Santa Sede de Verão de 2016
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