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19 agosto 2016

SELVA TRÁGICA (OU: O DIREITO A ESCROTIDÃO)

Ernande Valentin do Prado

Defendo quase todos os direitos que o ser humano poderia ter, principalmente de minorias: étnicas, políticas, negros, indígenas, albinos, homossexuais, palestinos, anarquistas, socialistas utópicos, porras loucas, mulheres. Acho também, embora não vá lhes ajudar a defender, que os nazistas têm seus direitos, por que não?
O Bolsonaro e todos que pensam como ele, têm o direito de se mudarem para uma ilha e viver lá oprimindo-se mutuamente, achando-se superiores uns aos outros. Acho inclusive que a ciência e os laboratórios (nazistas) poderiam desenvolver aparelhos para melhor medir a tonalidade da pele e da cor dos olhos, deste modo, na ilha dos nazistas, poderiam praticar graduações discriminatórias entre si, com base em uma tabela com a tonalidade das peles arianas, cientificamente comprovadas. Também poderiam fazer desfiles de fardas, para ver quem consegue uma goma perfeita, concurso de cospley de Hitler, embora nesse caso, não saiba dizer quem deverá ser premiado, se o modelo ou o estilista. A mesma dúvida tenho no caso de corridas de jegue: quem é o protagonista, o jegue ou quem monta no jegue?
Penso que os fundamentalistas (Cristãos), já tão perseguidos e oprimidos na história da humanidade, têm direitos de serem contra o aborto, contra o casamento gay, contra o bolsa família, o MST, a minissaia, a emancipação da mulher, o baile funk, do pokemon go, a libertação dos escravos. Acho que eles poderia se mudar para uma ilha ao lado da ilha dos nazista ou talvez até pudessem dividir a mesma ilha, tenho a impressão que têm vários pontos de vista em comum e um poderia tentar se impor para o outro.
Como anarquista/socialista/utópico, poderia me mudar para uma ilha de gente como eu. Só teria que aguentar a chatice das discussões infinitas sobre a importância das tonalidades do vermelho, encarar reuniões de seis horas de duração para discutir a pauta da reunião de três dias para discutir qual a cor do vermelho que seria (ou não) pintado na parede de nosso clube social ou se a melhor estratégia de tomada de poder seria a guerrilha urbana ou rural (ainda vale isso?).  
Será que os nazistas, os cristãos fundamentalistas e os anarquistas/socialistas/utópicos iriam se contentar em defender (ou impor) suas crenças entre si ou precisam ser aceitos e ter como palco o mundo todo e todos os seres humanos, mesmo que isso seja um risco para existência da sociedade e até da espécie humana e do planeta que habitamos?
Bom! Tudo isso são apenas sandices, o que queria dizer mesmo é que, apesar de me considerar libertário/anarquista/socialista/utópico, nem todo direito que o ser humano tem eu defendo. Não vou impedir nem falar contra eles, mas não esperem minha solidariedade. Por exemplo, concordo com as lutas das mulheres, concordo que precisam ganhar mais e melhor do que o homem. Elas trabalham melhor, deveriam ganhar mais, salário igual ou superior ao do homem branco cristão. Defendo o direito delas serem diretoras da Petrobras, presidentas, se assim desejarem e até de serem serventes de pedreiros (ou predreiras) na obra do empresário (possivelmente cristão/nazista) que defende jornada de trabalho de 80 horas.  Concordo com as delegacias especiais, os horários flexíveis, o direito a amamentação (inclusive em locais públicos), licença maternidade de 6 meses, entre vários outros.
Não acho que a mulher, simplesmente por ser mulher, dirige mal (nem bem) nem gosto da piada: “só podia ser mulher”. A maioria dos motoristas de sexo feminino, que conheço, são melhores no volante do que os motoristas do sexo masculino, que conheço e/ou conheci ao longo da vida. Em Curitiba, no Bairro do Barigui, todos os dias, em frente ao Clube Santa Maria, esperava passar dois ou três ônibus até chegar aquele dirigido por uma mulher. Ela foi, até hoje, o melhor motorista de ônibus com quem já viajei: nada de correria, nada de freadas aleatórias (para ajeitar a carga, como fazem quase dos os motoristas masculinos de João Pessoa e de quase todas as cidades, que conheço), nada de fechar a porta na cara dos passageiros ou de derrubar, nas curvas, quem não consegue se segurar.  
As mulheres têm, além de todos esses direitos que citei e de outros que não citei, um direito, mas que não defendo, apesar de não me incomodar se quiserem defender sozinhas (ou com seus iguais, femininos ou masculinos), enfim, estou falando do direito da motorista ser tão escrota quanto o motorista.
Tenho observado com certa perplexidade, nos últimos meses, que o motorista do sexo masculino tem mais facilidade em respeitar a faixa de pedestre do que o motorista do sexo feminino. Já comentei isso com algumas mulheres e pedi até que prestassem atenção para juntos tentarmos entender qual a razão disso ou que me corrigissem, caso estivesse percebendo errado.
Acho que nenhum motorista gosta de parar para o pedestre atravessar a rua, afinal, sempre foram os donos absolutos das cidades, das ruas, das praças e, aqui em João Pessoa, até das calçadas

Meu Deus do céu, para tudo:  aqui em João Pessoa o caminhante tem que disputar espaço com os carros na rua e nas calçadas. Parece que os motoristas não sabem a diferença entre rua, estacionamento e calçadas

aliás, as cidades são pensadas, por mais absurdo que isso seja, para os carros, não para as pessoas, mas essa é outra conversa. Parece, ao menos nos lugares, nos horários, nas vezes em que observo (e sempre observo), que as mulheres têm mais resistência em parar para o pedestre transpor a rua.
Certa vez, dentro da UFPB, uma mulher, não apenas não parou para eu passar, como acelerou ao ver que eu estava na faixa. Esses dias, dois motoristas não diminuíram a velocidade ao me ver na faixa e, indignados, ainda buzinaram, como se tivessem mais prioridade que eu. Um na segunda-feira e outro na quarta-feira. Nos dois casos eram motoristas do sexo feminino.
Coincidência? Infelizmente não parece.
Talvez o motorista não tenha sexo, o que é mais provável, como mostra um documentário dos anos 50 do século 20, que parece ter sido feito por psiquiatras altamente embasados, após um longo estudo comportamental. É impressionante e vale a pena ver como as pessoas se transformam atrás do volante.
Perca uns minutos e confira. Depois, se ainda achar, pode me chamar de machista, prometo ouvir seus argumentos e pensar sobre eles.
P.s. Os argumentos dos nazista e dos cristãos fundamentalista não prometo ouvir, mas se não se importarem em perder tempo, podem falar também.


[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

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