Ernande Valentin do
Prado
Defendo quase todos os direitos que o ser
humano poderia ter, principalmente de minorias: étnicas, políticas, negros, indígenas,
albinos, homossexuais, palestinos, anarquistas, socialistas utópicos, porras loucas, mulheres.
Acho também, embora não vá lhes ajudar a defender, que os nazistas têm seus
direitos, por que não?
O Bolsonaro e todos que pensam como ele, têm o
direito de se mudarem para uma ilha e viver lá oprimindo-se mutuamente, achando-se superiores uns aos outros. Acho inclusive que a ciência e os laboratórios (nazistas) poderiam
desenvolver aparelhos para melhor medir a tonalidade da pele e da cor dos
olhos, deste modo, na ilha dos nazistas, poderiam praticar graduações discriminatórias
entre si, com base em uma tabela com a tonalidade das peles arianas,
cientificamente comprovadas. Também poderiam fazer desfiles de fardas, para ver
quem consegue uma goma perfeita, concurso de cospley de Hitler, embora nesse
caso, não saiba dizer quem deverá ser premiado, se o modelo ou o estilista. A
mesma dúvida tenho no caso de corridas de jegue: quem é o protagonista, o
jegue ou quem monta no jegue?
Penso que os fundamentalistas (Cristãos), já
tão perseguidos e oprimidos na história da humanidade, têm direitos de serem
contra o aborto, contra o casamento gay, contra o bolsa família, o MST, a
minissaia, a emancipação da mulher, o baile funk, do pokemon go, a libertação dos escravos. Acho que eles
poderia se mudar para uma ilha ao lado da ilha dos nazista ou talvez até
pudessem dividir a mesma ilha, tenho a impressão que têm vários pontos de vista
em comum e um poderia tentar se impor para o outro.
Como anarquista/socialista/utópico, poderia me
mudar para uma ilha de gente como eu. Só teria que aguentar a chatice das
discussões infinitas sobre a importância das tonalidades do vermelho, encarar
reuniões de seis horas de duração para discutir a pauta da reunião de três dias
para discutir qual a cor do vermelho que seria (ou não) pintado na parede de
nosso clube social ou se a melhor estratégia de tomada de poder seria a
guerrilha urbana ou rural (ainda vale isso?).
Será que os nazistas, os cristãos
fundamentalistas e os anarquistas/socialistas/utópicos iriam se contentar em defender
(ou impor) suas crenças entre si ou precisam ser aceitos e ter como palco o
mundo todo e todos os seres humanos, mesmo que isso seja um risco para
existência da sociedade e até da espécie humana e do planeta que habitamos?
Bom! Tudo isso são apenas sandices, o que queria
dizer mesmo é que, apesar de me considerar libertário/anarquista/socialista/utópico,
nem todo direito que o ser humano tem eu defendo. Não vou impedir nem falar
contra eles, mas não esperem minha solidariedade. Por exemplo, concordo com as
lutas das mulheres, concordo que precisam ganhar mais e melhor do que o homem. Elas
trabalham melhor, deveriam ganhar mais, salário igual ou superior ao do homem
branco cristão. Defendo o direito delas serem diretoras da Petrobras, presidentas,
se assim desejarem e até de serem serventes de pedreiros (ou predreiras) na
obra do empresário (possivelmente cristão/nazista) que defende jornada de
trabalho de 80 horas. Concordo com as
delegacias especiais, os horários flexíveis, o direito a amamentação (inclusive
em locais públicos), licença maternidade de 6 meses, entre vários outros.
Não acho que a mulher, simplesmente por ser
mulher, dirige mal (nem bem) nem gosto da piada: “só podia ser mulher”. A
maioria dos motoristas de sexo feminino, que conheço, são melhores no volante
do que os motoristas do sexo masculino, que conheço e/ou conheci ao longo da
vida. Em Curitiba, no Bairro do Barigui, todos os dias, em frente ao Clube
Santa Maria, esperava passar dois ou três ônibus até chegar aquele dirigido por
uma mulher. Ela foi, até hoje, o melhor motorista de ônibus com quem já viajei:
nada de correria, nada de freadas aleatórias (para ajeitar a carga, como fazem
quase dos os motoristas masculinos de João Pessoa e de quase todas as cidades,
que conheço), nada de fechar a porta na cara dos passageiros ou de derrubar, nas curvas, quem não consegue se segurar.
As mulheres têm, além de todos esses direitos que
citei e de outros que não citei, um direito, mas que não defendo, apesar de não me
incomodar se quiserem defender sozinhas (ou com seus iguais, femininos ou
masculinos), enfim, estou falando do direito da motorista ser tão escrota
quanto o motorista.
Tenho observado com certa perplexidade, nos
últimos meses, que o motorista do sexo masculino tem mais facilidade em
respeitar a faixa de pedestre do que o motorista do sexo feminino. Já comentei
isso com algumas mulheres e pedi até que prestassem atenção para juntos
tentarmos entender qual a razão disso ou que me corrigissem, caso estivesse
percebendo errado.
Acho que nenhum motorista gosta de parar para o
pedestre atravessar a rua, afinal, sempre foram os donos absolutos das cidades,
das ruas, das praças e, aqui em João Pessoa, até das
calçadas
Meu Deus do céu, para tudo: aqui em João Pessoa o caminhante tem que disputar espaço com os carros na rua e nas calçadas. Parece que os motoristas não sabem a diferença entre rua, estacionamento e calçadas
aliás,
as cidades são pensadas, por mais absurdo que isso seja, para os carros, não
para as pessoas, mas essa é outra conversa. Parece, ao menos nos lugares, nos
horários, nas vezes em que observo (e sempre observo), que as mulheres têm
mais resistência em parar para o pedestre transpor a rua.
Certa vez, dentro da UFPB, uma mulher, não
apenas não parou para eu passar, como acelerou ao ver que eu estava na faixa. Esses
dias, dois motoristas não diminuíram a velocidade ao me ver na faixa e,
indignados, ainda buzinaram, como se tivessem mais prioridade que eu. Um na segunda-feira e
outro na quarta-feira. Nos dois casos eram motoristas do sexo feminino.
Coincidência? Infelizmente não parece.
Talvez o motorista não tenha sexo, o que é mais
provável, como mostra um documentário dos
anos 50 do século 20, que parece ter sido feito por psiquiatras altamente
embasados, após um longo estudo comportamental. É impressionante e vale a pena
ver como as pessoas
se transformam atrás do volante.
Perca uns minutos e confira. Depois, se ainda
achar, pode me chamar de machista, prometo ouvir seus argumentos e pensar sobre
eles.
P.s. Os argumentos dos nazista e dos cristãos
fundamentalista não prometo ouvir, mas se não se importarem em perder tempo,
podem falar também.
[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa das 10 às
6tas-feiras]