Escrever um livro é gestar. Você começa a concepção dele nas ideias, na organização, na seleção dos textos. E isso tudo inicia ainda antes, com o sonho de escrever um livro, como um filho. Ele vem já com um planejamento, com expectativas. Começamos a gestação do livro encharcados de poesia, vivências, e sonhos. Tão logo começa a gestação, inicia também a escolha do nome da criança.
O livro é o reflexo da sua gestação do cuidado na construção dos textos, no ultrassom das palavras. Aos poucos o embrião vai de desenvolvendo, tomando corpo em páginas. Você sente ele se movimentar na sua mente, com chutes carinhosos indicando que ele está ali, amadurecendo. Com ouvidos atentos é possível escutar o coração começar a bater em palavras, frases e pontos. E com o tempo você vai indo nas consultas obstétricas, para descobrir se a criança está crescendo bem.
Ali, do meio para o fim da gestação começa os acertos finais, você vai descobrindo o sexo do livro. A ordem dos capítulos, a forma da diagramação, a arte e até o detalhe do rodapé. A ficha catalográfica, os registros. Cada desenho é importante, e você vai se preparando para a chegada deste livro com todo o carinho. Anuncia para os amigos, mostra o barrigão de ideias, conta como ele foi evoluindo ao longo das semanas.
A sorte de poder escrever, é que não tem idade para a gestação, nem tempo, nem os óvulos envelhecem. A gestação é carregada por homens e mulheres sem distinção, além de jovens ou velhos. E nesse processo gestacional alimentado com calma no seu tempo é que o livro amadurece e a família cresce.
Quando está quase chegando a hora a pele é a capa, pronta para nascer. Sempre existe o medo de que algo de errado, que o parto não saia bem, mas é preciso coragem para parir escritas. Mal rompe a bolsa, o parto é no meio da gráfica. Um parto lento, porém nem tão dolorido, nem tão difícil. O que prevalece é a alegria de nascer e em parte o medo de cortar o cordão umbilical. O choro é silencioso, um grito de palavras mudas. O primeiro respirar no mundo das palavras. O mais novo bebê é pego com carinho, com lágrimas nos olhos e com um sussurro de “bem-vindo”. Você lança o livro no mundo, para criar vida própria, crescer e caminhar com suas próprias páginas.
Voam abraços,
Mayara Floss
Na apresentação de nosso livro, Vivência de Educação Popular na Atenção Primária à Saúde, eu e Amélia fizemos a mesma metáfora que você. Cada dia que passa vou percebendo que, embora de forma diferente, em épocas e lugares diferentes, muitas pessoas vão vivenciando forma de ver o mundo e suas coisas de maneira muito parecidas.
ResponderExcluirTambém tenho essa impressão. É possível perceber uma certa sincronicidade no que escrevemos, construímos e vivenciamos. E é interessante podermos fazer coisas juntos, unindo esses "tempos".
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