Soube domingo. Mas foi sábado 21. Aristóteles Picho morreu prematuramente aos 56 anos de doença cruel. Porque há doenças que são assim, cruéis e absurdas. De imediato escrevi ao meu amigo de quase 40 anos, Pepe Tejada. Nos anos 80, adolescentes metidos, acompanhamos os ensaios de Pedro e o Capitão, onde Aristóteles (ou El Picho, como chamávamos carinhosamente) brilharia como o jovem torturado pelo Capitão na peça de teatro do saudoso poeta uruguaio Mário Benedetti.
Pepe (José) era responsável pelas luzes. E eu fui convidado para tirar as fotos de divulgação. Eu que mal tinha máquina razoável, aceptei entusiasmado. A peça seria encenada numa sala do Museu de Arte de Lima, lugar de arquitetura clássica, republicana, de imensas alturas e salões exagerados.
Acompanhei alguns ensaios. Fui incluído na trupe. Me sentia bem. E ousei com as iluminações e os filmes em preto e branco. Acho que as fotos saíram bonitas. Talvez não tanto. Quando se é jovem tudo é especial. Mas sim. Já era exigente na época.
Algumas foram, de fato, publicadas em jornais peruanos. A peça foi um sucesso. E depois a carreira - sempre séria e digna - de Aristóteles deslanchou. Cinema, televisão, sempre teatro alternativo. Longa caminhada. Mas queríamos mais, claro.
Como quase tudo o valioso que vivi no Peru até 1994, deixei essa lembrança escondida em algum lugar. 2013 foi um ano interessante porque vários, ao acaso talvez, me fizeram voltar a lembrar (re-cordar). E me sinto orgulhoso de ter rido e me admirado, me emocionado nos ensaios, atravessado essas salas do museu quase todas no escuro belo da Lima de noite, da Lima. Ter feito fotos que eles gostaram - e muito, quero acreditar.
Essas imagens se perderam. Meu caos as fez sumir, de alguma forma. Alguém deve ter guardado cópias. Mas em que caixa ou malinha estarão os negativos? Mas elas ressuscitam fácil em mim e em Pepe Tejada - hoje também grande ator peruano.
O descanso será bom, Picho. Você fez coisa boa demais. E agradeço por esses tempos iniciais. E por não ter esquecido da minha cara redonda e oriental, circundada de cabelos. Nas vezes que nos encontramos sempre foi gentil e ainda me inclui-a na trupe. Bom para mim, que sempre fui diletante e dubitativo.
Julio, querido, Aristóteles viverá em suas lembranças. Obrigado por ter nos apresentado.
ResponderExcluirNa verdade, querido amigo, ele vai viver nos filmes, nos seriados, nas novelas, e nos registros das peças em que participou. E para os que tivemos a sorte de interagir, no coração e no desejo por um mundo mais justo e mais bonito. Era um ator índio. Isso, no Perú, e em qualquer país, isso sempre é um desafio grande.
ExcluirUn excelente ser humano, simple y sencillo como los mas grandes...
ResponderExcluirEs verdad Pepe. Era una persona simple. Como los que realmente valen la pena. Y, por suerte conocimos y aun conocemos muchas personas así. Sina boa para una vida. Un abrazo de hermano.
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