12 maio 2014

HIstorinha de mães [Maria Amélia Mano]



[Mensagem à lista da Rede de Educação Popular em Saúde, em 11 de maio de 2012.
Ana tem 2 anos e já corre para me abraçar quando me encontra...]

" Então, gentes...

É uma reflexão baseada em historinhas curtas (os nomes são fictícios)

Acho os dias disso e daquilo, às vezes, mais uma oportunidade para o comércio fazer a festa. No entanto, se a gente esquecer que "tem que" comprar presente para as mães e observar esse universo tão especial, percebe-se algo imenso...

Tenho uma paciente de 30 anos, Maria que, apesar de obesa, hipertensa e com conflitos conjugais "cismou" de ter filho... Pesando todos os riscos e compartilhando os medos, eu era a última pessoa a encorajar essa empreitada. Mas como a gente é quase nada frente ao desejo das pessoas, ela engravidou e após 35 semanas de acompanhamento conjunto com setor secundário, hospitalizações e situações difíceis de risco em que eu a via quase semanalmente, ela tem a pequena Ana. Acompanho a Ana, hoje com 4 meses, e ela é tão linda e sorriu tão cedo que tive que dizer para Maria: "ainda bem que tu não me escutaste!" e ela só me respondeu: "viu? eu disse que ia dar tudo certo!"

Daí, o legal dessa lida nossa de cada dia, é a certeza de que a gente não tá pronta... que tem sempre algo a descobrir e que as pessoas, inclusive essas "teimosas" que não nos escutam, têm sempre a nos ensinar. São essas teimosias que nos viram a cabeça e revolucionam e fazem a gente, não atirar fora os riscos e as escolhas perigosas, mas pesar os sonhos (e sonho tem peso?), as palavras, os desafios e a sempre possibilidade de dar certo, sim, apesar de tudo...

Agora, tenho a Luísa que tem 15 anos, é soropositiva (transmissão vertical) e quer ser mãe. E tenho a Lúcia, com 41 anos, diabética e hipertensa que também quer... Sugestões? Óbvio que, novamente, listei todos os riscos, todas as complicações, mas depois do sorriso da Ana e da força que os sonhos têm, mesmo os mais malucos, terminei dizendo que, independente da escolha, eu estaria do lado delas.

Ao lado delas, não sem medo, mas com toda a prudência do mundo, porque, de vez em quando, por essas caminhos que a vida oferece, as coisas não são tão boas, os riscos são maiores que os desejos e os sonhos não bastam...

Assim, nesse segundo domingo de maio, mães malucas e corajosas que levaram seus sonhos adiante (apesar das médicas certinhas e medrosas), sintam-se enormemente abraçadas! Sou fã de vocês e absolutamente comovida e embevecida com tudo que enfrentaram e enfrentam. Com tudo que me ensinam. Vocês são maravilhosamente desobedientes, teimosas e revolucionárias e merecem cada momento com seus pequenos/pequenas.

Ah, e precisa ver como chegam na unidade, orgulhosas, carregando esses pacotinhos de felicidade beeeeeeem enfeitados!!

Vocês fazem valer a pena cada minuto meu de apreensão!

Feliz dia das mães!

Amélia

P.S.: ... e me escutem de vez em quando, tá!? "





[Maria Amélia Mano escreve na Rua Balsa das 10 às Terças Feiras]

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