Maria Amélia Mano
Salve el brillo de mis dentes sonriendo desnudos
Salve el cuerpo de los amantes rogando ser uno
Soy mujer también sirena
Me vuelvo casta a cantar
sólo la música es capaz de penetrar
en el hueco del sol
lo lleno del mar
las mujeres girando en uma rueda
girando hasta el día clarear
Mariana Lucía
Helena, sempre Helena e suas
coisas sempre vivas...
Falo
de uma mulher que sempre me fala e sempre me falará. Sempre me ensina e sempre
me ensinará. Foi estuprada pelo pai aos 8 anos e aos 13 anos saiu de casa com o
namorado. Teve a primeira filha aos 14 anos e daí vieram mais 3 meninas e o
último, um menino sorridente e esperançoso como ela. Ele é passista de escola
de samba e pelos olhos dele, Helena enxerga mais razão em viver. Nem é tanto
mulher, é mulher e mãe.
Falo
de uma mãe que não protegeu Helena. De pais que tinham o vício da bebida e do
abandono. Algo que não está no DNA, mas que passa, contamina, pega... Mas vinho
era pouco. Quando o casamento acabou, Helena precisava de outras formas de enfrentar
a vida, de fugir da vida. Descobriu que ficar sóbria, limpa, acordada, feliz,
tranquila, era uma luta cotidiana. Nem é tanto a vida, é a falta de vida.
Falo
de dias que se tornaram mais e mais escuros, mais e mais arriscados. Dias que viraram
noites longas. Longe de casa, Helena usava cada vez mais cocaína e crack.
Começou a se prostituir. Foi contaminada pelo vírus HIV. Adoeceu. Buscou ajuda.
Ergueu os olhos e se orgulhou de si. Sentiu ansiedade e fissura. Recaiu e
voltou para a rua, para o medo de morrer. Nem é tanto o risco, é a dor.
Falo
de buscas. Da busca de Helena desde os 8 anos. Desde antes. Desde sempre.
Helena no Centro de Atenção Psico Social - CAPS, braços sangrando, confusa,
esquecida de si, querendo voltar de novo para si. Conhece Jairo, também
internado, também querendo voltar. Ambos se permitem o encontro, o conforto, a
esperança, o toque, o abraço. Nem é tanto a carência, é desejo de recomeçar
pelo amor que nunca teve.
Falo
de pequenos grandes atos revolucionários. A terapeuta, na oficina com mulheres
no CAPS resolve pintar Helena. Base, rímel, sombra, lápis e batom. Maquiada,
ela se olha e chora. Disse que só havia se pintado para se prostituir e nem se
achava bonita. Mas desta vez se emocionou porque se achou linda e especial. Seus
olhos brilham quando me conta a sensação de se ver bonita. Nem é pouca coisa, é
imensidão.
Falo
de palavras simples que valem uma vida querer ser vivida. Jairo viu Helena
maquiada e disse: “eu quero minha nega, assim, bonita pra mim!”. Helena sorri
quando me conta da surpresa, do amor. Fala que nunca foi elogiada assim, que
quer ficar sempre bonita, talvez mudar de casa, de vida, ter outro filho. Mas
isso é plano, é sonho, capricho. Nem é remendo, é resgate.
Falo
de uma mulher que sempre me fala e sempre me falará. Sempre me ensina e sempre
me ensinará. Sempre uma fala sábia, sem perceber. Um abraço nem sempre firme,
às vezes tonto, mas sempre forte e verdadeiro. Ama a vida que às vezes tenta
enganar. Helena sempre me espanta e escrevo. Agora, preciso de um presente
mágico para Helena que daqui um mês faz 40 anos de pura ternura e teimosia. Nem
é agrado, é gratidão.
Helena,
sempre Helena e suas coisas sempre vivas...
Observação – o primeiro texto no
blog sobre Helena foi feito dia 24 de julho de 2013.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?