Maria Amélia Mano
Dever
de casa do curso de documentário. Preciso me filmar. O tema: uma questão que
estou me debatendo, no momento. Poderia ser um incômodo? A partir dessa
questão, imagens do passado e imagens do futuro. Projeções e memórias. Ora, que
difícil! Eu saindo da função diária de escutar os outros e suas questões. Eu em
projeto de registro, memória, escuta e atenção aos saberes de outros. Como
agora, pedem que eu fale de mim? Se ainda fosse de alguma história, de alguém
importante. Mas, não...
Como
tenho muitas questões hoje e que, certamente, todas devem se relacionar com coisas
vividas e com sonhos futuros é difícil fazer a escolha. Ainda, precisa ser uma
questão que não seja superficial e que, ao mesmo tempo, não me exponha ou
exponha alguém. Também precisa ser algo que eu possa falar com certa
tranquilidade e que seja, de alguma forma interessante. Um detalhe: devo fazer
isso em três minutos. Assim, me debato com o exercício que é de fora e de
dentro. E viro personagem de mim mesma.
Penso
na escolha do tema e nas escolhas que faço e que isso é e será sempre uma
questão para mim e para a humanidade. Escolher. Apostar. Investir. Acreditar. E
me entrego ao que entendo que é a melhor escolha com toda a vontade que tenho.
Faço planos, ordeno a vida, já me imagino “lá”, com o que sonho conquistar. Sim,
porque o fato de escolher não quer dizer que já se tem nas mãos. Não há uma
prateleira de sonhos à venda. Os melhores, aliás, não têm preço. Uma escolha é
em parte um caminho e exige esforço, teste, processo e até, disputas.
Mas
o fato é que, de uma forma geral, no meio do caminho ou, às vezes, pior, no
finzinho, quase na reta final, tudo dá “errado”. Meu prêmio, fruto de desejo,
fruto de escolha, fruto de esforço, me escapa pelas mãos e, entre lágrimas, me
desfaço e me refaço em recomeços nem sempre leves. Assim, já acostumada com o
tropeço, sigo em busca de nova aventura e eis que, do nada, ou de tudo, me
aparece uma janela imensa aberta, uma oportunidade melhor e mais bonita do que
aquela que sonhei. E essa janela, vem mais fácil, mais natural.
O
que encontrei ao acaso é mil vezes superior ao que busquei imensamente em
plano. Nem sempre fico feliz de início, porque, ainda, triste pela perda, não
consigo enxergar a importância do ganho inusitado. Mas, a longo prazo, isso que
me aparece “de graça” se apresenta como valioso. Se não fossem essas grandes
surpresas não planejadas, esse outro caminho não escolhido, essas outras
saídas, eu não teria vivido muitas experiências especiais e que fazem ser quem
sou hoje.
Do
que fui, lembro de uma menina intensa e esperançosa que rezava e rezava para
todos os deuses e anjos que conhecia para ter um sonho realizado. Lembro das
decepções e da revolta com esses deuses e anjos que não atendiam. Do que sou,
ainda uma pessoa esperançosa, mas que não reza mais pela realização de sonhos,
embora acredite e lute por eles. Hoje já sei que o universo pode fazer escolhas
mais sábias. Então, rezo por inspiração e intuição. Que as buscas intensas não
me ceguem e que as maravilhas escondidas não me escapem.
Do
que serei, desejo, ainda ser esperançosa. Quero ser mais esperta nas escolhas e
nas apostas e ainda, ser humilde e saber que parte do que busco, não vou achar.
Espero não perder tempo chorando por isso. Mas terei de compreender mais, como
hoje já estou aprendendo, que as coisas realmente bonitas e que valem a vida
ser vivida, nós não precisamos procurar tanto. Na verdade, nós não as achamos.
Elas é que nos acham. Se eu deixar que os sonhos me encontrem, acho que serei
mais sábia. Agora, a questão é: isso é interessante e pode ser meu dever de casa?
foto: túmulo da Cigana Terena em Pelotas-RS, lugar de pedidos e orações.
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