05 janeiro 2016

BOA HORA

Maria Amélia Mano


Boa Hora
 E não vá se perder com tanta estrada
Alessandra Leão
                Pelotas, Rio Grande, Jaraguá do Sul, Goiânia, Goiás, Brasília, Alto Paraíso de Goiás, São Paulo, Rio de Janeiro, Venâncio Aires, Garopaba, São Lourenço do Sul, Bagé, Montevidéu, São Francisco de Paula, Curitiba, Pedras Altas, Natal, João Pessoa, Campinas, Recife, Olinda, Canela, Veranópolis, Porto Alegre. Minha rua...
Anda o teu andar sem pressa
Chega, a boa hora é essa
Entra
Puxa essa cadeira
Tem a tarde inteira
                 Congressos, projetos novos e antigos que se renovam ou que já não servem mais, documentário, bonecos, papelagens, girafas de papel, grafites, aulas, feriados, shows, skate, aulas, orientações, caminhadas, livros e mais livros, horta, feriados, feiras, aniversários, visitas, cafés, fins de tarde, despedidas, pousos e aterrisagens, voos.
Quase que eu perdi o medo
Deixa de guardar segredo
Deita
Espera amanhecer
Sabe como deve ser
                Fugas, alívios, dúvidas, descobertas, medos antigos e novos. Ausências e aconchegos. Saudades. Coisas grandes, coisas ínfimas. Tiroteios. Gestações. Incompreensões em cotas, metas e números:  20 mortos, 60 nascimentos. Falta de resposta e remédio. Falta de papel para enxugar as mãos e as lágrimas (cota de lágrimas?). Falta de respeito.
            
Traz de volta a claridade
Parte um sopro de saudade
Senta
Deixa de bobeira
A vida é tão ligeira
                 Trabalho, casa, família, amores. Chuva demais. Lama demais. Mortes em travessias. Homens-bomba. Desligo a tv para não mais ver. Madrugadas. Sonhos, insônias e cansaços. Livro para  escrever. Tardes de trabalho. Noites de escrita e busca de desenhos e ideias. As manhãs possíveis onde o tempo se desdobra em ruas e cafés entre as árvores da República.
            
A promessa que eu fiz foi diferente
Pois na volta parece que é mais perto
Não há jeito melhor que o jeito certo
Quem quer sombra é melhor jogar a semente
Quando for dar um passo olhe pra frente

                 Tanto que ainda quero. Aprender a costurar, a fazer pão, a alfabetizar, a usar tear, a tocar gaita, a cuidar de plantas, a construir pequenos jardins ou hortas. Fazer pequenos filmes, pequenos livros. Estudar francês e espanhol. Voltar para a cerâmica. Mudar de casa, quem sabe. Quem sabe, atualizar currículo. Quem sabe, estudar mais. Voltar a Santo Antônio de Lisboa...
Saiba bem do caminho na largada
E não vá se perder com tanta estrada
Não se pode esquecer do objetivo
Não há laço maior que o afetivo
Nem amparo melhor que a madrugada

                     Entra ano e sai ano. Lista de coisas não feitas, bem feitas e mal feitas. Lista de coisas feitas que nem foram sonhadas. Lista de missões cumpridas. Lista de pendências. Listas que esqueço no fundo da bolsa. Caderninhos de feira. E que se tenham listas em branco para que as surpresas dos tempos as preencham. Sem pressa. Guardando dias e noites, boas horas, no coração. Recomeço.


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