Maria Amélia Mano
"A idade não nos protege do amor. Mas o amor, em certa medida, nos
protege da idade"
Jeanne Moreau
É
fim de dia, começo de noite. Após trabalho nem sempre tranquilo, uma reunião,
12 pacientes e quatro conduções. Trânsito e fila. Após uma série de desafios,
coisas gostosas de ouvir, coisas tristes e cansaços. A ideia é ler poesia ou
alguma história curta, um conto, uma crônica. É tempo de ouvir música leve, ver
programa leve, buscar poesia, foto e ilustrações bonitas na internet. Colocar a
alma em uma rede e embalar, balançar.
É
tempo que desejo não pensar mais do que já pensei, como se já tivesse gasto o
estoque de pensamentos ou como se quisesse me poupar para um bom sono, um bom
sonho na noite. Porque dormir bem exige certa paz e boa energia. Nem sempre “fugir
do mundo” é possível e as urgências de algum projeto vez ou outra, pedem
atenção, pedem raciocínio e inspiração. Família pede carinho, irmã e mãe ligam.
Chega mensagem, e-mail, “zapzap”.
Entre
uma xícara de chá, um doce, uma besteira aqui e acolá, descanso. Então, numa
dessas, faz tempinho e via tevê. Coisa mais rara ultimamente pelo alto grau de
bobagem, baixa qualidade ou excesso de catástrofes cotidianas que tento, em
vão, me alienar, por tempos. Mas me apeguei a algumas pequenas séries
curtinhas, leves e descomplicadas que vejo, enquanto lancho. Nenhuma fidelidade
a qualquer programa. Puro passeio pelos canais.
E
veio a história da mulher de 47 anos, que já tem que caprichar para sair bem na
foto, na festa e se sente insegura ao lado do companheiro que, sendo professor
universitário, convive com jovens interessantes e sedutoras. O tempo, ou
melhor, a idade, é o mote do episódio. A graça está nas coisas que a personagem
escuta: “procurar coisas da sua idade”
ou “está bem para a idade”. Bem isso. Bem o que é e acho graça. Me identifico.
Ao
fim, ela realmente se dá conta de que o tempo é professor e admite que apesar
das exigências da sociedade e dos padrões de beleza e sucesso, a idade tem
ganhos. E penso. O legal é que podemos ser maduras e ridículas e nos darmos
conta disso e rirmos de nós mesmas. O legal é que podemos admitir que sentimos
medos, sempre sentiremos e isso não mais nos assusta. O legal é que podemos ser
quem somos e pagar todos os preços, sem mais dívidas.
Mas
a melhor frase* do episódio é a que “fecha”. Pesquisei. É uma adaptação da
atriz e cantora francesa Jeanne Moreau. Pesquiso Jeanne que nasceu em 1928, um
ano mais que a minha avó. Vejo vídeos antigos. E me emociono quando ela, ainda
linda, aos 84 anos, canta com a jovem e maravilhosa Vanessa Paradis. Um
encontro de vozes. Uma canção não tão bela. Um seriadinho que nem era para
fazer pensar...
Espera-se
que Vanessa reverencie Jeanne e de fato, ela o faz. Mas, generosa, Jeanne beija
a mão da linda jovem ao fim da canção. Sabedoria do tempo. Sabe que é tudo tão
rápido e que quem começa precisa mais de reverência. Quem começa precisa mais
de afirmações. Quem começa precisa mais de aplausos. Quem já caminhou muito e
se sente, de alguma forma, repleto de vida e de estrada, está sereno e pode
ofertar o beijo que é presente, poeira e bênção.
Assim,
mesmo sem querer pensar, mesmo sem querer mais voos, vou até tarde. Quando bate
o sono, deito tranquila. Queria sonhar com a Amélia de 17 anos, suspirando com
o primeiro amor. Quem sabe, poderia dizer a ela que, sim, “as coisas vão ser diferentes com o tempo”. Algumas melhores. Mas, “menina, a idade não vai te proteger do
amor, mas o amor, vai te proteger da idade”. Assim, “segue em frente!”. E beijaria suas mãos, com carinho.
*Citada
por Mônica Martelli em “Os Homens são de Marte e é pra lá que eu vou” do canal
GNT.
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