Mas mal controlo o protesto do corpo
Eu queria voltar ao espaço aprazível do sonho
Do esquecer
Mas ele diz
Grita como tambor
Batuque no tórax
No mediastino
Alguma vez a anatomia tinha que ser de utilidade íntima
Nesse grito enlouquecido
Na casa dormida e solitária
- porque nunca houve assim tanta solidão
Eu sinto faltas
Eu digo presenças que queria tocar
Calores calmos que tinham que estar
Para dizer meu mundo sem sequer
Soltar gesto ou palavra
Eu queria neste instante o teletransporte
O café instantâneo de queimada e doce
O passo ritmado pela Lima e pela República
Aquele suquinho
Aquela utopia brotando de olhar e planos e sonhos
Aquela doçura de criança eterna que cria galáxias
Mas tenho é penumbras
Passagem de segundos como horas
Cidade minha que me nega
Black hole em dia ausente
Espera aceita
Em dizer silente
Eu queria insônia para outros
Queria sono bom até abrir os olhos
Mas desejo desde esta noite que não termina
Parece piada
E anuncia sua volta enseguida
Na próxima penumbra
Na próxima instância
Em que ele - o corpo, a fome, o vácuo
Vai me definir por defeito
Contra toda regra
Contra todo dizer
Contrassenso de querer-te
E assim existir
Fecho os olhos sem sossego
Sem consolo sequer do cansaço
E ele chega, vencedor, falante, final de dia, final de mundo
Até que as bocas calem cúmplices seus beijos
Até que os corpos definam sábios suas proximidades
[rio de janeiro, cidade do carnaval, 3:50 da noite]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?