Maria Amélia Mano
Azul do céu brilhou
E o mês de maio, enfim chegou
Olhos vão se abrir, pra tanta cor
É mês de maio, a vida tem seu resplendor
E o mês de maio, enfim chegou
Olhos vão se abrir, pra tanta cor
É mês de maio, a vida tem seu resplendor
A luz do sol entrou
Pela janela, me convidou
Pra tarde tão bela, e sem calor
É mês de maio, saio e vou ver o sol se pôr
Horizonte, de aquarela, que ninguém jamais pintou
E um enxame, de estrelas, diz que o dia terminou
Noite nem se firmou
E a lua cheia, já clareou
Sombras podem ir, façam favor
É mês de maio, é tempo de ser sonhador
Quem não se enamorou
No mês de maio, bem que tentou
E quem não tiver, ainda amor
Dos solitários, o mês de maio é o protetor
Boa terra, velha esfera, que nos leva aonde for
Pro futuro, quem nos dera, que te dessem mais valor
Almir Sater e Paulo Simões
Um dia, já cantei essa canção de
olhos fechados, porque queria ter feito cada palavra e cada vírgula. Também
sorri com imagens bonitas de luz de sol de outono. Também chorei com perda de
amor. Mas nesse mês que passa rápido, só penso nesses tantos jeitos de ser mãe.
Inspiração que me faz colocar pra dentro todo ar puro que cheire a cuidado e
colo.
Uma vez já escrevi sobre elas, as
três irmãs, Maria, Marli e Lane. Marli já morta. Lane e Maria sempre envolvidas
com vícios, histórias de abandono e violência. Passado de prostituição.
Presente de doenças. Falei da filha de Lane. Agora, falo da filha de Maria. As
filhas, mulheres heroínas, cuidadoras e cuidadosas que aprenderam a ser assim,
sem nunca terem tido cuidado de mãe.
Muriel foi a primeira filha de
Maria, após quatro anos, mais uma e após mais dois, mais um, o caçula. Sabe-se
de um outro, mais novo, que ninguém conhece o paradeiro porque foi feito e
parido em tempo perdido, onde Maria sabia pouco de si, pelas drogas. O pai de
Muriel morreu cedo. Sempre ausente, também envolvido com drogas e tráfico.
Todos foram criados pela avó paterna.
Aos seis anos, Muriel já cuidava dos
irmãos menores. Aos nove anos, já trabalhava em casa de família para ajudar a “pôr
as coisas dentro de casa”. Viu a irmã casar cedo e engravidar cedo. Viu o irmão
se perder nas drogas, depois da morte da avó. Mas se apaixonou, casou e esperou
o tempo de ser mãe para ter André. André que fiz o pré-natal, como faço de quase
as mulheres da família.
E Muriel chega abatida com André. A
consulta é dele, 2 anos, pesar, medir, rotina. Mas ela pede cuidado. Soube do
irmão caçula, 22 anos, que estava sumido há 20 dias. Dizem que assassinaram. A
outra irmã, novamente grávida, iria fazer o reconhecimento do corpo no IML.
Maria voltava de uma internação: baixou a imunidade porque não tomou os remédios.
Mundo desabando em maio.
Acolho, abraço. Tem só 26 anos. É
mãe há 20 anos. É mãe da própria mãe. E, às vésperas do dia das mães, perde um
filho, um irmão. Pior, não sabe se perdeu. Mundo escuro de inseguranças, corpos
abandonados em matos e banhados, boatos, ameaças, entorpecimentos que sempre, com
poucas saídas, sempre escolheu fugir e construir mundo mais claro, mais limpo.
André está choroso. Muriel acha que
está com pouca paciência para cuidar. Sempre esperando notícias. Sente culpa. Está
triste. E abraça o menino como presente esperado da vida. Digo que cuide de si
e de sua família. Que se orgulhe do que construiu, do que tem, do que é. O mês
de maio é sempre dela, desde os seis anos, menina. Todos os dias são dela.
Novamente, canto a canção de olhos
fechados, porque queria ter feito cada palavra. Sorrio de novo. Lembrei do choro
da perda que já não dói. Mas nesse mês que já passou, a música me ensina mais. Porque
resolvi inspirar cheiro de mãe. Porque Muriel abraçada em André, de olhos fechados
é poesia e canção maior. É mulher amando todos os filhos que pode abraçar, com
os braços infinitos e o coração de todos os dias da vida.
Ver: As Três Irmãs, publicado em 29/03/16
Ilustração: Fatemeh Haghnejad
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