Maria Amélia Mano
Aos que me acompanham,
de perto ou de longe,
em caminhadas.
Hoje eu vou brincar de ser criança
E nessa dança, quero encontrar você
Distraído, querido
Perdido em muitos sorrisos
Sem nenhuma razão de ser
Christiaan Oyens - Zélia Duncan
Não
presto atenção nas mudanças da casa. Esqueço coisas. Já fui atropelada por
bicicleta em cima da praça e já atropelei, de bicicleta, em cima da calçada. Queimo
o feijão. Deixo a luz acesa, o ventilador ligado. Entro na conversa no meio e
acho que estou entendendo tudo e dou pitaco (pior que nem sempre é ruim). Tenho
inúmeros chaveiros que não sei que porta abrem. Perder algo em casa é talvez,
perder para sempre...
Se você não se
distrai, o amor não chega
A sua música não toca
O acaso vira espera e
sufoca
A alegria vira
ansiedade
E quebra o encanto
doce
De te surpreender de
verdade
Sou
amiga de gente que entra em roubadas. Entro em roubadas. E pior, às vezes, envolvo os outros nessas roubadas. Viagens de paradas estranhas. Trajetos
curvos, espirais, mais longos. Trajeto reto e direto... Esqueça! Paradas em
livrarias, cafeterias, sorvete ou simplesmente, uma banca de revista.
Quilômetros de caminhadas. Chuva que adoro pegar quando o calor é grande. Sem
guarda chuva, claro!
Se você não se
distrai, a estrela não cai
O elevador não chega
E as horas não passam
O dia não nasce, a
lua não cresce
A paixão vira peste
O abraço, armadilha
Posso
dormir no ônibus e encostar a cabeça no ombro de um desconhecido. Normalmente
são compassivos e me alertam. Ainda, no ônibus, copio os poemas nas janelas,
escuto as conversas e bato fotos. Também posso pegar o trajeto errado, posso
passar do ponto de descida, especialmente se escuto uma canção bonita (e sorrio
sozinha, pra ninguém). Ah! E canto a música de jeito errado, o que causa certa
zombaria: felicidade alheia.
Se você não se
distrai,
Não descobre uma nova
trilha
Não dá um passeio
Não ri de você mesmo
A vida fica mais dura
O tempo passa doendo
E qualquer trovão
mete medo
Se você está sempre
temendo
A fúria da tempestade
Converso
com quem não conheço achando que conheço. Também falam comigo, carinhosos, sem
saber quem sou. Já cheguei a pensar que tenho jeito comum e confiável. Algo que
ficou mais frequente com os cabelos brancos. Aliás, os cabelos brancos, esses
que me tranquilizam de algum diagnóstico, que me fazem me perdoar, rir de mim e
das boas trapalhadas que já me meti e que ainda vou me meter, agora, com certo
orgulho e carinho, por mim.
Foto: alguma manhã no Café da
República, uma das paradas prediletas...
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