Maria Amélia Mano
Eu represento quem luta pelo melhor de si, a
única diferença é que minhas lutas são públicas, vocês assistem pela TV, mas
somos todos iguais, estamos todos, todos os dias, buscando a nossa melhor
versão. Errando, buscando, aprendendo.
Eu nadei por vocês e vocês nadaram comigo.
Eu nadei por vocês e vocês nadaram comigo.
Joanna Maranhão
Eu
começava a viagem e os jogos olímpicos iniciavam. Abertura linda, que vi
atrasada, no dia seguinte, em televisãozinha de avião. Nos bastidores, parece,
sem tanto brilho e sem cor. O Rio é lindo, sim. O Brasil também. Mas, sabemos,
há as violências cotidianas e os esforços de muitos, sacrifícios de comunidades
removidas. Silêncios e vaias. Tempos de homofobia e intolerâncias.
Assisto
parte dos jogos sem querer, no almoço. Restaurantes insistem em televisionar.
Ainda bem. Pois foi bonito ver muita coisa. Rafaela da Cidade de Deus que
ganhou o judô, a etíope de olhos imensos que ganhou os 10 mil metros rasos e
subiu ao pódio abraçada na bandeira. A queniana foi prata. Chorei sozinha,
confesso. E torci também, como todos.
Depois
teve o esforço heróico da Marta e o menino Isaquias, baiano de história linda,
nadava no Rio das Contas e foi prata junto com o companheiro Erlon. Não
vou falar do ouro do futebol, apesar da grande alegria que causou. E o vôlei, especial. Não
vou falar da anterior passagem da tocha olímpica que, de forma particular, em
cada lugar, teve uma história diferente. Merecia um road movie.
Quero
falar da Daniele Hipolyto. Ela fez uma apresentação impecável, uma pirueta (não
sei como se diz), um mortal, “um tudo” no ar que quase voa, voa, e quando volta
ao chão, cai. Ao sair, o repórter já pergunta a ela, como foi, o que sentiu
quando caiu. Daniele responde: “Pô, vocês em vez de ressaltarem a coisa boa,
vocês falam logo da queda?”. E o repórter responde que é mais fácil começar
pelo erro.
As ginastas brasileiras, todas,
saíram dizendo: “fizemos o melhor”, “demos o melhor”, “nos esforçamos para dar
o máximo”. E achei linda essa confissão, mesmo que sem medalhas. E achei lindo
a Daniela enfrentar o repórter e, para o mundo inteiro, questionar porque
sempre tem que se falar do que não deu certo. E o salto? E o voo? E o esforço?
Vocês não viram o salto?
No
último pan-americano, Daniele tinha o dobro da idade das concorrentes e perdeu
o bronze por décimos. Quer ir a Tóquio. Vai estar com 35 anos. Agora, foi
oitava colocada em equipes geral feminino. Escolheu a música da Anitta,
“Bang!”, no solo individual. Incentiva as mais novas. Acalma e aconselha. Faz
declarações de amor e apoio ao irmão, o também ginasta Diego, que foi prata.
Na
disputa final do futebol feminino, a manchete é negativa: perdemos o bronze. Lá
no final da notícia se lê que Bia fez um belo gol e que a seleção saiu
aplaudida porque cativou o país. Assim, Daniele, você tem razão, começamos pelo
erro. Porque mediocremente a mídia carniceira, acha mais fácil. E seguimos
repetindo. Mas em um momento muito delicado, você conseguiu apontar!
Meninas
da ginástica olímpica, Marta, Daniele, Joanna e todos os que não subiram ao
pódio. Especialmente, todas as mulheres que disputaram esses jogos. Anitta até!
Mirem o salto, de salto alto – que não sei usar – ou descalças, mirem o gol
lindo da Bia, o esforço da Marta, a coragem da Joanna, o enfrentamento da
Daniele. Em um país em que o ouro olímpico foi dos homens, o ouro da alma
lavada foi das mulheres.
https://www.youtube.com/watch?v=UGov-KH7hkM
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