22 agosto 2016

Última visão de Cartagena [Julio Alberto Wong Un]

Era o último período. O taxi já levava ao aeroporto da pequena cidade. Na alma e nas malas segredos mágicos descobertos na pura sorte, no puro amor ainda sem desgaste.

Puxando conversa com o moço do táxi - que nisso sou imbatível - comento da minha admiração por Joe Arroyo desde adolescente (quem não souber quem é ali está a Wikipédia, facinho). Ele disse: eu conheci ele desde garoto. Era amigo da primeira namorada dele. Vi a primeira filha desde pequenina. Ela morreu de doença, sabe? Muito triste.

Aos poucos fui convencido, encantado, pela história sedutora do novo amigo colombiano, enquanto Minha companheira e o menino cubano de nova york iam atrás no carro, altas conversas de fim de cidade - cidade que fica no ADN para sempre / pelo menos essa que nós inventamos juntos.

Sem avisar quase - ele falava baixinho - ele mudou de rumo. Disse: vou passar pela casa dele, no bairro dele. Assustei um pouco. Estávamos perto do horário dos nossos voos. É rapidinho, me disse.

Dai fomos por espantosos labirintos. Ares tropicais e casas de realidade cada vez mais dura.

Ia muito rápido para o ritmo da cidade. Sem avisar de novo deu uma freada. É aqui. Uma casinha minúscula. Um cartaz pintado a mão. Aqui morou Joe Arroyo. Quer descer para tirar uma foto? disse meu novo amigo.

Eu olhei emocionado e disse não. Só a visão já era mais do que demais.

Dai rumamos ao aeroporto.

Tudo nessa viagem me fez inteiro. Tudo sem exceção.

Mas essa visão foi o reencontro profundo com a dança que sabia que havia dentro de mim.










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