Maria Amélia Mano
E não importa se os olhos do mundo
inteiro
Possam estar por um momento voltados
para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de
escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em
formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for a festa do pelô, e se você
não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
Caetano Veloso
Primeiro, o genocídio de
populações indígenas e a opressão espanhola, legitimada pela Igreja que também
fez acreditar que todos eram subumanos.
Depois, a escravidão dos negros, também tratados como
animais.
O domínio francês veio para explorar e deixar em condição
de miséria.
Livre da França, invasões norte-americanas, ingerências,
interferências e ditaduras cruéis.
Em 2010, um terremoto destrói a capital, Porto Príncipe.
São 150 mil mortos. Mais de 300 mil deslocados internos.
Por Tabatinga, os filhos do terremoto se aproximam de nós,
imigrantes fugindo de uma história de violências.
Em 2016, um furacão e mais mil mortos, por enquanto...
Agora, o medo pela cólera, o medo pelas mulheres...
Estamos olhando a televisão e minha mãe se perde nas
imagens da destruição. “E essas roupas nos varais?”
Como prestar atenção nesse detalhe em meio tantos
escombros? Mas, sim, coloridas, alguns panos, também estavam onde estavam
pessoas em casas sem tetos.
Sim, no meio da destruição, roupas aparentemente limpas
arrumadas, estendidas, voando nas cordas. Ela se impressiona que o furacão não
levou.
Mas o furacão levou muito. A Espanha, a França e os
Estados Unidos também levaram muito. Aprenderam a violência com a violência dos
povos e dos ventos.
Eu sei, por histórias vividas, que os que ficam buscam o
mínimo do que tinham. Resgate de vida e de dignidade. Restos de um tempo de
antes, da lama, das perdas, das chuvas e dos ventos.
Imagino que as roupas nos varais são isso. O cuidado com
o pouco que não foi. É dizer que é preciso seguir, esperar o sol, vestir o
corpo, viver.
Esses humildes, coloridos e pequenos pedacinhos de pano,
limpos e cuidados, são pequeninas esperanças, secando, voando, rezando...
-
Uma
colega militar que trabalhou na missão brasileira ao Haiti em 2010, enviou essa
conta que é de Iracema, a esposa de um haitiano que vive em Recife. Ela está coordenando uma ajuda e se tem a
garantia de que quaisquer doações terão o destino justo.
Iracema CC Silva
Cpf: 06605026403
Banco do Brasil
Agência: 03255
CC: 390208
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