Maria Amélia Mano
Existirmos a que será que se destina
Caetano Veloso
Existirmos a que será que se destina
Caetano Veloso
Um
brinde!
As
últimas duas semanas foram assim...
À
amizade, à nossa saúde, à parceria, às férias que chegam, ao amor, aos sonhos,
às viagens, às caminhadas ou somente à cerveja boa e gelada...
Falamos
de sustos, assombros, medos e coragens, desejos, fantasmas, falamos de nós e
desatares de nós, falamos de nós e dos outros. De muitos e de como somos sós.
Sobre
essa solidão que nos persegue desde nosso primeiro choro, uma hora, uma
palavra. Temos que aprender que o outro, o amor, é testemunha. E acho
testemunha palavra linda, agora, assim, desse jeito de olhar. Antes servia mais
pra crime imperfeito. Mas vida é crime imperfeito e estamos sujeitos a sermos
delatados sempre. Assim, que essa imperfeição deixe pistas. As pistas das
nossas irresponsabilidades, das nossas insônias, dos nossos sonhos, os mais
absurdos. Os que nunca dão certo, os que dão certo sem percebermos, os que
perseguimos, os que abandonamos, os que envelhecem, os que se renovam,
renascem.
Ah,
essas semanas! Semanas de cansaço e espera de pausa. Paciência.
Sobre
essas mesas de bar, essas caminhadas na noite, essas canções antigas
revisitadas, essas horas livres, essas risadas soltas, um brinde! Um brinde ao
fim do dia com luz linda que deixa minha calçada diferente, mais vazia, mas
mais cheia de sombras, mais fresca, mais aconchegante, mais pedindo pés descalços
no chão e mais olhar para o que pode ser sempre novo, mesmo visto todos os
dias. Esses dias em que saio e chego pelas mesmas pedras, pequenas viagens
cotidianas, pequenas despedidas de tempos. Dias que nascem. Entardeceres.
Um
brinde à desordem que causamos*: é letra de música de filme de sábado sobre
sonhadores.
Penso
na desordem desses olhares que buscam a palavra mais linda, a brincadeira com
bonecos de sucata, o curso de curta-metragem, um outro idioma, a pintura do
muro, a música na rua, aprender a alfabetizar, tocar gaita e fazer pão, voltar
a desenhar e a mexer com barro. Passarinho lá fora diz que é desordem demais! Inquietação
demais! Rio dele, respondendo que quero tatuá-lo na nuca, e mais um símbolo do
infinito do sertão de Rosa, da matemática da mãe E mais uma folhinha verde no
braço direito. Folhinha em homenagem à minha falta de marca de vacina.
Subversão. Reverência à natureza e ao pai que me ensinou a amá-la.
Deixo
que esses dias me passem e eu passe por eles, com eles. Nesse brinde
desordenado de quem acredita no que se constrói entre risadas, entre
simplicidades, entre ausências e corações encharcados de esperanças,
desabrochares, cantares, algumas ressacas, ideias criadas em cafés entre
árvores e, sobretudo, desordens. A
desordem de passar na livraria e querer o Sílvio Rodríguez que toca e o Calvino
só por uma passagem aberta em página aleatória. Penso que são presságios.
Avisos. Mensagens. Conselhos. Mas não acho mais a página em atrapalho de
memória. Ah, essa minha desatenção! Essa minha paixão!
Um
brinde à minha procura! À nossa loucura, extasiada por canção e cor de
entardecer! Um brinde!
https://www.youtube.com/watch?v=nmd7Nw9KqaE
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