![]() |
Queda da bastilha. Imagem da internet. 2017. |
Ernande Valentin do Prado
Vi na tv, num desses
programas em que o entrevistado fala o que quer e o entrevistador não apresenta
contraditório, um desembargador corajoso (e cara de pau em excesso, mas tão em
excesso que parecia zombar de quem o ouvia) dizer que os juízes no Brasil só
parecem que ganham bem, que na verdade seus salários (acima do teto para quase
100% deles) estão defasados. Para justificar que ganham poucos ele deu a
entender que juízes precisam comprar ternos em Miami, pagar plano de saúde,
escolas, carros, entre outras coisas.
Só eles têm esses
gastos?
Na atual conjuntura, no
momento em que tentam convencer o povo que o país não tem dinheiro para bancar
a aposentadoria do cidadão comum (o que é mentira), que já se voltou a falar em
cobrar mensalidades em escolas públicas, em serviços de saúde, cortar direitos
básico do viver, esses senhores e seus colegas deveria ter vergonha na cara
(mas não têm). Essa gente parece incapazes de ver a situação absurda em que
chegamos e não perceber que estamos por pouco de uma ruptura total da ideia de
País (que começo a não achar tão ruim).
Os salários e penduricalhos que recebem (se
concedem e julgam justos), são mais do alto, são altíssimos, estratosféricos
(se comparado ao que se paga em outros lugares e ao que ganha um cidadão comum
e até monarcas de outras nações). Além disso há que considerar que os
benefícios que supostamente deveriam gerar são ridículos, ineficientes, injustos
e porcos (sem querer ofender os suínos). O judiciário, com raras exceções, escondeu
a corrupção durante toda sua existência (e provavelmente se beneficiou dela).
Agora ela parece desenfreada, mas alguém lembra que eles deveriam coibir isso,
que ganham altíssimos salários para isso? Alguém ainda tem dúvidas de que essa
corrupção que parece incontrolável é responsabilidade (em sua maior parte) pela
ação (e falta de ação) deste judiciário, que para ser caro ainda tinha que diminuir
em mais de 50% seus gastos e para chegar a ser ineficiente deveria aumentar em
mais de 100% sua resolutividade)?
Li estes dias que a
própria ideia de democracia está sendo posta em questionamento no Brasil, talvez
porque agora estejamos vendo parte da extensão da corrupção que antes nos era
negado ver. Infelizmente a corrupção não parecer ser o maior problema do
Brasil, mas o fato de alguns, como os membros do judiciário, acharem-se
melhores e com mais direitos dos que outros. Os benefícios que essa gente se dá
são tão absurdos quanto os que a monarquia se davam, em tempos em que os reis,
os imperadores se julgavam deuses. Não são e não são merecedores de respeito. Por
isso e por outros há um desencanto com a democracia, que a gente vê no rosto
das pessoas e nas ideias defendidas por gente desesperada na rua, como a volta
da abominável ditadura militar.
O que se faz dentro das
leis absurdas, criadas pelas instituições (indecentes) deste país, são tão inacreditáveis
que parte do mundo ri e outra parte lamenta. Como está provado pelas delações,
mas já estava nítido antes, quem manda no estado são os empresários (e ainda tem
quem acredite que a saída seja pela privatização ou pela eleição de empresários
para cargos executivos). Leis são feitas para beneficiar esta ou aquela
empresa, esse ou aquele grupo. O povo é um detalhe, uma desculpa. No Brasil de
hoje a própria ideia de nação é absurda, não temos nação, não temos
instituições, temos uma espécie de tribo com saqueadores institucionalizados e
essa ideia fica nítida quando se pensa nos enormes privilégios que as elites se
dão (e nem estou falando das elites econômicas, mas das elites públicas: juízes,
senadores, governadores, deputados, prefeitos (entre outros sanguessugas).
Mesmo que zerasse toda
corrupção, o que é impossível com essa elite empresarial e pública, ainda não
teríamos uma nação, porque não temos instituições, mas gangues, quadrilhas de
saqueadores, parasitas, sanguessugas com poder de se conceder benefícios tão
absurdos quanto humilhantes.
Pessoal do judiciário,
senadores, deputados, vereadores, membros do executivo se concedem, todo dia,
benefícios que os descolam do resto dos seres humanos. E neste cenário: como
viabilizar a democracia, como viabilizar a ideia de nação?
Os salários, os
penduricalhos, os tetos e sobretetos, são mais do que imorais, são uma afronta
a todo brasileiro vivo e até os mortos. Será que estão esperando uma revolta
popular, uma queda da bastilha, linchamento de engravatados (com ternos comprados
em Miami) para fazer alguma coisa realmente significativa?
Tem reforma que dê
jeito nisso?
Temos que refundar o
Brasil ou desistir dele de vez, começar uma greve geral pelo resto da vida, que
inclua os militares e deixar essa gente morrer de fome, porque eles são
incapazes de produzir a própria comida, só comem porque nós lhes alimentamos.
Um princípio básico
para existência de uma nação democrática de verdade ou que se queira de verdade
deveria ser:
Nenhum membro do
executivo, legislativa ou judiciário, enfim, nenhum membro do estado, incluindo
o servidor público, deveria ter acesso a mais direitos, mais benefícios, mais
penduricalho do que o cidadão comum. Assim todos os juízes, promotores,
professores, secretários disso ou daquilo, prefeito, governador e até a pessoa
que serve cafezinho ou limpa os banheiros, deveriam usar escolas públicas,
serviço de saúde pública, segurança pública, transporte público. Só assim não
descolariam de como vive a população e realmente trabalhariam para que houvesse
dignidade aos cidadãos.
Não há argumento,
desculpa ou falácia que justifique um Juiz ter salários e benéficos tão alto,
nem eles e nem qualquer outra pessoa. A ideia de que um juiz ou senador mereçam
mais do que a quem eles servem é uma afronta.
Temos que fazer uma reforma
no Brasil como um todo, refundar o País, mas não pode ser feita por
representantes. Não tem assembleia constituinte que dê jeito. As reformas
precisam nascer das ruas, das mesas de bares, das escolas, das praças, dos
instrumentos da internet e o maior número de pessoas deveriam participar. De
outra forma não vai adiantar, vai ser apenas mais uma enganação.
Todos esses
sanguessugas que dizem nos representar deveriam ser depostos já, seus salários,
anéis, carros, casas, ternos comprados em Miami, deveriam ser confiscados,
apenas aí começaríamos a vislumbrar o nascimento de uma nação.
[Ernande Valentin
do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?