Maria Amélia Mano
Poesia é voar fora da asa.
Prestar
atenção ao movimento do mundo é também ver alguns pontos se unirem. Pontos que
nem sempre se parecem. Parecem distantes. Desaparecem e reaparecem em memória que
assalta, de surpresa, feito pisca-pisca, pirilampo, essas estrelas que caem e
fazemos pedidos. Eu mulher cheia de desejos e sempre tentando lembrar qual o
mais urgente, o mais especial para pedir.
E esse
mundo se move em viagens por terra, ar e lembrança.
Aventura
no ar. Asa de avião com escrita inusitada: “não pise”. Jamais pensei que alguém
poderia pisar na asa. Lembrei o poeta. Caminhar na asa de um pássaro, quem
sabe. A gente ser pequeno que nem os soldadinhos, os brinquedinhos, as
miniaturas e sair voando em asa, segurando em penugens, lanugens amorosas.
Aventura na terra. Placa na estrada:
velocidade controlada por pardais. Chamam pardais os radares eletrônicos que
identificam as velocidades dos carros. Mas eu novamente penso no poeta. Um
pássaro a nos espiar e controlar. Percebo que os pontos-pirilampos se unem e quem
fia, desfia a ponte entre pássaros é a poesia.
Aventura
de infância: lembranças. Amigo que conheci menina aparece em conversa de
mensagem de telefone. A mãe dele foi minha professora. Lembro da escrita a giz
no quadro: o pardal voa. O pardal que nos olha na viagem. O pardal que,
pequena, viajo na asa. E os pontos-pirilampos que unem os pássaros são feitos
da ternura que sempre fica do que de lindo vivemos.
E esse
mundo se move em viagens por dentro de nós, caminhos da alma.
Pardais
com asas de caminhada, asas de ver tempo dos homens, asas de poesia, asas de
lembrança delicada: tia Benedita. A professora do primário ainda mora na mesma
rua calma. Vou escrever carta e mandar livro azul que vira barco: balsa. Os pontos-pirilampos
seguirão para longe, onde uma estrela prometeu cair, um dia. E eu menina sabia fazer
pedidos simples.
Novo
ponto se une. E o pardal, esse pequeno, é fio-pirilampo entre a menina e a
mulher, para me ensinar a fazer pedido bonito, desejar simplicidade. Essa que
mora na asa, na casa distante da tia Benedita, na lembrança, no reencontro, na
poesia, na ternura, na viagem, na estrela no céu, na estrela em mim, essa que
pisca e pirilampeia em mim, viaja em mim e volta para mim, em abraço de passarinho.
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