Maria Amélia Mano
Seremos ainda cientistas se nos desligarmos da multidão?
(...)
Eu
sustento que a única finalidade da Ciência está em aliviar a canseira da
existência humana.
Bertold Brecht
(Galileu)
Parece que foi
ontem e eu acho que foi. Expectativa, novidades, descobertas, cansaços e jeitos
novos de organizar o dia, a semana, a vida. Passou mais rápido do que imaginava
e eu acho que sempre passa. Já cumpri parte dos requisitos. Já não mais
repetirei todos os rituais de idas e vindas e, apesar do alívio, já sinto certa
ternura saudosa.
Fazer uma
formação em um lugar grande tem suas belezas, mas fazer em um lugar pequeno, tem
levezas, tem esse jeito de banco de praça, coreto e banda depois da missa. Tem
esse jeito de conhecer histórias diferentes de trajetórias e viagens, esforços,
sacrifícios, apostas. Gente que sonha, gente que mora longe, que mora perto e
oferece pouso.
E mesmo
pequenino, me sinto feliz e eu sempre me sinto, valorizo, abraço com toda força.
Consegui dizer e fazer o que acredito. Levar filminho de criança, levar música
popular, levar minhas crenças, levar periferia, levar minha vida para dentro de
uma sala de aula e compartilhar. E me sentir acolhida e perceber que me escutam.
Que escuto e ajudo.
Ainda tem
muita água debaixo dessas estradas que me levam ao coração de um Rio Grande,
uma Santa Maria, desde um Porto Alegre. Ainda tem muito sono e sonho em ônibus.
Madrugada na rodoviária e café com amigas de travessia, estrada e caminho. Eu
acho que ainda tem muito. E eu sempre acho que ainda tem muito.
Desse muito, momentos
que mais marcaram. O vídeo com o cotidiano sendo sacudido para dizer que podemos
sair do lugar de conforto, que podemos sair do automático, que nos é permitido sair,
surtar. Que vale a pena divagar, subverter, questionar, fazer parar trem que
nos leva sempre ao mesmo lugar. Mudar de rumo, pular o muro, voar.
Ainda, Meu
Lugar do Arlindo Cruz para provar que música é poesia que é teoria que é
ciência. E que toda ciência tem que ter um fim, uma intenção. Algo vivo nas
palavras de Brecht que também fizemos desfilar para falar um pouco do que
queremos, de nós, de nossos sonhos, de nossas pretensões de mudar mundos.
Termina um
ciclo e eu sempre acho que é só passagem. Só passagem. Que nem é ciclo, é tudo
redemoinho e embarco nele, me embalo nele, nesses ventos de algo que chamam
doutorado e que eu sempre chamarei aventura. E eu sempre acho que é aventura.
Como todas as voltas e revoltas, como todos os recomeços. E eu sempre acho que
estamos só começando.
Sempre que paro na rodoviária de Santa Maria me sinto em casa, dou uma volta na banca, ou durmo no banco até o próximo ônibus. Um café preto ou uma água nas mesinhas. Sempre que desço lá, sono, sonho escrevo. Lá foi o primeiro livro, lá passei no vestibular. E ciclos seguem se formando e completando. Obrigada pelo texto, viajei com você.
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