Maria Amélia Mano
Engravidou sete, pariu seis, perdeu dois antes que tivessem 30 anos.
Pelo cálculo, Dona Lolinha passou mais de 4 anos grávida e pelo menos 11
amamentando, 12 com filho no colo. Seus seios eram a prova de que foi alimento.
Sua corcunda era a prova de que muito se abaixou para pegar filho, para ensinar
filho a caminhar. Seus olhos de brilho calmo eram a prova da generosidade e do
cuidado. Os calos de suas mãos eram a prova dos anos junto ao tanque, aos
varais, aos remendos, aos pilões, às panelas, às massas de pão socadas e
deixadas para descansar.
Não era de se admirar que o tempo fizesse suas marcas no corpo, no coração,
na alma e na razão e por esses tempos idos é que ela se foi, a razão. Conforme
os dias e as noites, Dona Lolinha ia se curvando cada vez mais e, cada vez
mais, a memória faltava, a realidade faltava. Mas a alegria vinha, como se
jovem fosse, como se grávida estivesse, como esteve por anos. Então, cada vez
menor, cada vez se apequenando mais, Dona Lolinha foi se apegando às bonecas.
Tinha uma sempre no colo, às vezes no seio, às vezes, junto do rosto, beijando.
Dona Lolinha sempre mãe, com seus bebês.
E Dona Lolinha foi diminuindo. Até que coube certinho em uma
caixinha de música, dessas de corda que se dá, dessas que abre tampa como quem
abre um tesouro valioso. E foi valiosa a vida de Dona Lolinha, feita para dar
vida e cuidar de vida. Feita também para perder filho e ser sovada que nem massa de pão. Por isso o descanso merecido, o descanso que se faz em caixinha
rosa. Ali, a surpresa de purpurina e tule: uma pequena bailarina grávida segura
filho no colo e carrega filho nas costas e ainda assim, dança. Dona Lolinha
dança no céu das pequenas e eternas mães.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?