Ernande Valentin do Prado
Entrei na enfermaria com os pratos do almoço e fui distribuindo um
para cada pessoa internada, sobrou até para os acompanhantes. Por mais que a
direção do hospital proibisse, não conseguia resistir. Como deixar essas
pessoas sem comer?
— Ninguém fica doente sozinho, não é mesmo?
Era a justificativa, caso alguém questionasse e viesse com aquela
conversa de novo:
— A comida é só para os doentes...
Na cama do fundo, sem acompanhante, Mário não pegou seu prato.
Ficou apenas observando.
— Não vai comer?
Perguntei.
— Não consigo comer sozinho e estou sem acompanhante.
Disse ele, conformado.
Destampei o prato, peguei o garfo, pronto para lhe dar comida na
boca.
Sinceramente, não gosto de fazer isso, dar comida na boca. Mas não
dá para escolher o que se gosta de fazer, nesta profissão. Tem que fazer o que
é necessário.
— Pode usar uma colher, tenho medo de me machucar...
Disse Mário, que sofria de uma doença que lhe causava tremores
aleatórios. Por isso não podia comer só e nem ser alimentado com garfo.
— Posso.
— Posso.
[Ernande Valentin do
Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
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