![]() |
Foto: Eduardo Vasconcelos |
Eymard Mourão Vasconcelos
História contada pelo monge Laurence Freeman em
Há alguns anos, uma mulher jovem muito descontente costumava ir
regularmente ao nosso centro de meditação em Londres. Ela olhava resolutamente
para o lado sombrio da vida, habitualmente se concentrando em tudo que lhe
faltava, e não no lado positivo.
Ela era hipersensível, reativa e todos tinha muito cuidado ao
lidar com ela. Um dia ela nos disse - como se fosse prova de sua convicção de
longa data de que o universo estava determinado a persegui-la - que havia sido
diagnosticada com um câncer agressivo e terminal. Nos meses seguintes, ela
continuou a vir ao Centro e a meditar conosco e membros de nossa comunidade, em
particular, demonstraram grande gentileza e paciência. Sua amargura na vida
aumentou, mas pelo menos ela não rejeitou totalmente a paciência e a compaixão
que lhe eram destinadas. Nós a ajudamos a encontrar um lugar para terminar seus
dias. Quando ela foi levada para cuidados paliativos, costumávamos visitá-la.
Um domingo depois da missa comunitária, eu levei a ela a comunhão
no hospital. Ela parecia terrível e sua expressão rígida continha muita raiva.
Quando eu disse que tinha trazido a comunhão, ela fez uma careta desagradável e
disse: "Bem, isso não me fará tão bem assim, não é mesmo? Não, obrigada.”
Mas disse que gostaria que eu sentasse com ela por um tempo. Nós conversamos um
pouco enquanto ela reclamou como alguma celebridade do momento que tinha um
estilo de vida notório estava se divertindo na fama e sucesso. Ela, em
contraste, tinha sido "boa" a vida inteira, obedeceu aos mandamentos
e acabou assim sozinha e morrendo jovem. Eu escutei. Ela então pegou um
caderno, olhou para mim e perguntou se eu gostaria de ler seus poemas. Eu
desonestamente disse sim e olhei o livro, mas não pude ler a caligrafia dela,
então perguntei se ela poderia lê-los para mim.
Ela começou a ler um poema chamado "A canção da baleia",
descrevendo os cantos que as baleias emitem umas às outras através de vastas
distâncias no fundo dos oceanos. Era verdadeiro e profundamente comovente,
transformando seu intenso sofrimento solitário em palavras de beleza. Ela
"cantou" para além de si mesma. Ela me lançou um rápido olhar para
ver como eu estava reagindo e viu que eu estava comovido. Naquele instante, ela
também, como Jesus na montanha no evangelho de hoje, foi fisicamente transfigurada.
Seu rosto magro e esquálido irradiava beleza e uma espécie de glória. Seus
olhos brilhavam alegremente com uma visão de uma realidade além do véu corporal
e de suas aflições. Foi breve, mas atemporal. Ela recebeu a comunhão depois de
tudo isso. Logo sua expressão normal decaiu novamente, embora de maneira menos
intensa. Ela morreu alguns dias depois.
[Eymard, publica nas primeiras e terceiras 5tas-feiras do mês]
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?