02 abril 2019

JESUS SE TRANSFIGUROU DIANTE DE 3 APÓSTOLOS. NOSSOS PACIENTES PODEM TAMBÉM SE TRANSFIGURAR DIANTE DE NÓS.

Foto: Eduardo Vasconcelos
Eymard Mourão Vasconcelos

História contada pelo monge Laurence Freeman em 

Há alguns anos, uma mulher jovem muito descontente costumava ir regularmente ao nosso centro de meditação em Londres. Ela olhava resolutamente para o lado sombrio da vida, habitualmente se concentrando em tudo que lhe faltava, e não no lado positivo.
Ela era hipersensível, reativa e todos tinha muito cuidado ao lidar com ela. Um dia ela nos disse - como se fosse prova de sua convicção de longa data de que o universo estava determinado a persegui-la - que havia sido diagnosticada com um câncer agressivo e terminal. Nos meses seguintes, ela continuou a vir ao Centro e a meditar conosco e membros de nossa comunidade, em particular, demonstraram grande gentileza e paciência. Sua amargura na vida aumentou, mas pelo menos ela não rejeitou totalmente a paciência e a compaixão que lhe eram destinadas. Nós a ajudamos a encontrar um lugar para terminar seus dias. Quando ela foi levada para cuidados paliativos, costumávamos visitá-la.
Um domingo depois da missa comunitária, eu levei a ela a comunhão no hospital. Ela parecia terrível e sua expressão rígida continha muita raiva. Quando eu disse que tinha trazido a comunhão, ela fez uma careta desagradável e disse: "Bem, isso não me fará tão bem assim, não é mesmo? Não, obrigada.” Mas disse que gostaria que eu sentasse com ela por um tempo. Nós conversamos um pouco enquanto ela reclamou como alguma celebridade do momento que tinha um estilo de vida notório estava se divertindo na fama e sucesso. Ela, em contraste, tinha sido "boa" a vida inteira, obedeceu aos mandamentos e acabou assim sozinha e morrendo jovem. Eu escutei. Ela então pegou um caderno, olhou para mim e perguntou se eu gostaria de ler seus poemas. Eu desonestamente disse sim e olhei o livro, mas não pude ler a caligrafia dela, então perguntei se ela poderia lê-los para mim.
Ela começou a ler um poema chamado "A canção da baleia", descrevendo os cantos que as baleias emitem umas às outras através de vastas distâncias no fundo dos oceanos. Era verdadeiro e profundamente comovente, transformando seu intenso sofrimento solitário em palavras de beleza. Ela "cantou" para além de si mesma. Ela me lançou um rápido olhar para ver como eu estava reagindo e viu que eu estava comovido. Naquele instante, ela também, como Jesus na montanha no evangelho de hoje, foi fisicamente transfigurada. Seu rosto magro e esquálido irradiava beleza e uma espécie de glória. Seus olhos brilhavam alegremente com uma visão de uma realidade além do véu corporal e de suas aflições. Foi breve, mas atemporal. Ela recebeu a comunhão depois de tudo isso. Logo sua expressão normal decaiu novamente, embora de maneira menos intensa. Ela morreu alguns dias depois.

[Eymard, publica nas primeiras e terceiras 5tas-feiras do mês]

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