Maria
Emília Bottini
Hanami Cerejeira
em Flor (2008), de Doris Dörrie é uma produção alemã e francesa. “Da morte nada sabemos” escreve Rubem
Alves, de fato pouco ou nada queremos saber deste assunto dolorido e difícil.
Esse filme nos faz refletir sobre a vida que vivemos ou tentamos viver.
Frudi é casada
com Rudi, homem que cumpre o ritual de trabalhar diariamente. Frudi tem uma
conversa com o médico do marido que lhe dá o diagnóstico de que o amor da vida
inteira está com os dias contados. No
entanto, opta por não dividir com ninguém a notícia e sofre a dor de saber da
finitude anunciada; enfrenta a notícia com dificuldade para dormir e choro frequente.
Ela propôs ao
marido uma viagem ao Japão para ver o filho. O marido, mesmo contrariado,
aceita fazer a viagem, mas primeiramente vão para Berlim visitar os outros dois
filhos. Kraul é casado com Ema e tem dois filhos, Celine e Robert. Ao chegaram
à casa do filho, os netos não dão a menor atenção aos avós, apenas seguem
jogando vídeogame e manuseando seus celulares. A neta deve emprestar seu quarto
para os avós dormirem e é claro que isso não lhe agrada.
A filha Karolin se
irrita em saber que seus pais foram visitá-la, pois está sem tempo para eles e pede
a sua parceira Franzi que faça as honras e lhes apresente a cidade. Quando se
encontram é bastante deselegante com sua mãe. O casal resolve passear de metrô
e apresentam dificuldades com os bilhetes por conta das novas tecnologias, pois
não há alguém para vender os bilhetes, somente uma máquina. Rudi diz para a
esposa que deseja ir para casa, visto que seus filhos não tem tempo para eles e
se sentem incomodados com suas presenças. Ela convida seu marido para irem à
praia antes de voltarem para sua casa. Na praia conversam sobre o tempo, a
vida, os filhos e a decepção de como estão sendo tratados por eles.
Ao retornarem ao
hotel, Frudi morre silenciosamente ao lado do marido, que fica desolado. Os filhos
ficam incomodados com o fato, pois não sabem o que fazer com o pai agora viúvo.
Ele decide ir para casa e por lá sente o impacto de estar só e com as
lembranças da mulher a quem nem sempre entendeu ou atendeu seus desejos. Decide
visitar o filho no Japão conforme o desejo de sua esposa. O filho se sente invadido
e atrapalha-se com a presença do pai, fala ao telefone com a irmã e comenta que
estaria ficando louco com a presença dele em sua casa; o pai ouve toda a
conversa, mas o filho não percebe.
Rudi faz algumas
incursões sozinho pelas ruas do Japão deixando lenços amarrados para encontrar
o caminho de volta. Encontra-se com Yo, uma jovem dançarina de Butô - uma dança
que surgiu no Japão no pós-guerra - explica que é a dança das sombras, que dança
com a mãe, falando ao telefone enquanto dança, pois sua mãe passava muito tempo
telefonando para amigos e parentes. A partir de então, encontra-se com Yo frequentemente
construindo uma bonita relação de amizade e cumplicidade. Rudi, em seus
passeios pela cidade, sai vestido com as roupas da esposa e lhe mostra a cidade
que desejava tanto conhecer. Cenas de sensibilidade e de profundo amor ao tempo
vivido juntos.
O filho não tem
tempo de visitar com o pai o Monte Fuji, então o pai faz o passeio com a amiga
Yo. Se hospedam num hotel em frente ao monte, e por vários dias esperam diante
da janela, porém nada pode ser visto na montanha tímida que não quer se mostrar
encoberta pela neblina. Rudi adoece e permanece alguns dias deitado, certa
noite ao levantar-se o Monte Fuji apresenta-se lindo, iluminado pela lua, ele vai
até a beira do lago e dança butô com as sombras de sua amada introjetadas dentro
de si. Cena de impacto intenso sobre nossas emoções. Momento de encontro com o
amor que se foi, o amor da vida inteira, e através dos movimentos da dança deixa-se
levar pela morte.
Seu filho é
avisado da morte do pai e realiza a cremação.
E as cerejeiras
em flor onde ficam neste filme? Bem, estão presentes em todos os caminhos pelos
quais Rudi percorre no Japão. Sua flor é bela, simples e breve e deve ser
apreciada sua presença e beleza intensamente, talvez nos lembrando de que tudo
o que temos em uma vida é efêmero e se perde no ar.
Hanami,
cerejeira em flor, nos fala da morte e do viver, da relação com os filhos
ocupados demais com suas vidas, com trabalhos, com namoros, com os recursos tecnológicos,
com o viver nem sempre cheio de sentido; ocupados demais para dar atenção aos
pais que estão nas portas da morte, porém responsáveis por trazê-los à vida. Um
filme para refletir e pensar sobre nossas vidas enquanto as cerejeiras fazem flores.
[Maria
Emília Bottini publica no Rua Balsa das 10 aos Sábados]
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