Ernande
Valentin do Prado
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UNIR, Porto Velho. Ernande (2019) |
Quando
alguém me pára na rua e pede uma informação:
— Onde fica a Rua Monsenhor Magno?
Por
exemplo, mesmo que eu não faça ideia da resposta, que não saiba onde é a rua ou
quem foi o tal Monsenhor, páro, presto atenção a pergunta, faço cara de que
está interessado e preocupado em ajudar.
Se
precisar dizer:
— Não sei,
o
que volte e meia acontece, antes pergunto:
— que lugar está procurando, perto do
que?
E
se mesmo assim eu não puder ajudar, ao menos a pessoa saberá que não foi por má
vontade.
Aprendi
a fazer isso porque me sinto muito mal quando preciso perguntar alguma coisa
para um desconhecido. Quase sempre, infelizmente, percebo que as pessoas não
querem responder, quase sempre não querem nem ao menos ouvir a pergunta.
Pergunto e quase sempre adivinho a respostas:
— Eu não sou daqui.
Quer
dizer, não é bem assim, não em todo lugar. Isso das pessoas não saber a
resposta, seja qual for a pergunta, é específico de João Pessoa, na Paraíba.
Uma vez, na Praça da Lagoa, estava comendo uma deliciosa e gigantesca tapioca
de queijo coalho com banana. Percebi que não ia dar conta de comer tudo sozinho,
virei para o lado e fui oferecer um pedaço para o rapaz sentado por ali. Antes
de perguntar qualquer coisa, ele disse:
— Eu não sou daqui, pergunte no ponto de
táxi.
As
respostas para pedidos de informações variam conforme a região e o estado. Por
exemplo, em São Mateus, no Espírito Santo, as pessoas quando são paradas e
questionadas sobre um endereço, não se contenta em só informar onde é a Rua
tal. Elas vão contigo até o endereço que você procura.
Em
Itajaí, Santa Catarina, as pessoas não apenas vão contigo até o endereço que
você procura, elas querem te carregar no colo até o local. Já em Salvador, na
Bahia, as pessoas na rua se ofendem se você lhes fizer uma pergunta. É como se
você tivesse a obrigação de conhecer cada palmo de Salvador, mesmo que nunca
tenha estado lá.
Certa
vez fui xingado por uma pessoa, ao lhe perguntar onde ficava a rua General Labatut,
273, Bairros Barris. E
todas as outras pessoas com quem falei, me fizeram ir para o lado contrário a
rua que eu procurava, que estava a menos de cem metros de onde parti. Já
cansado de rodar e com medo de fazer novas perguntas, parei em um barraca de
água de coco, comprei um, que estava quente. Pensei:
— tudo bem, eu só quero puxar conversar e
perguntar sobre a Rua do tal general...
Furei
o coco eu mesmo, que a senhora vestida de baiana do acarajé estava com o braço
machucado. Sentei e perguntei:
— a senhora sabe me dizer onde fica a Rua
General Labatut,
no Barris?
E
ela disse:
— sei não, meu filho.
Em
Recife, se a pessoa questionada não tem a resposta, ela mesma procura alguém
que saiba e só vai embora quando encontrar alguém para te dar a informação que
ela não deu.
— Dúvida que seja assim, em cada uma
destas cidades?
Tudo
bem, você está certo.
Não
é assim, não tem como ser assim. Ou melhor, até pode ser, o que não é
possível é a afirmação de que é assim e pronto. A minha experiência pessoal,
mesmo não sendo mentirosa, não define que as coisas sejam assim ou assada. Não
posso afirmar que a terra é plana simplesmente por causa da superfície da
cidade de Porto Velho, em Rondônia.
O
que de fato me convenceu que em Itajaí as pessoas são como eu disse que são,
foi uma experiência de três dias na cidade. No Espírito Santo foram seis meses
e mais umas cinco boas experiências. A informação que tenho sobre a pouca
disponibilidade dos soteropolitanos em dar informações, foi de apenas uma
visita.
Entende
que essas vivências e essas amostragens são muito pequenas para permitir dizer
que as coisas são como eu disse ou quero que sejam?
Vivemos
um tempo em que a vontade e os desejos de algumas pessoas (em pontos chaves de
poder), são automaticamente verdades absolutas por suas próprias vontades.
Parece que essas pessoas falsas, mentirosas, desequilibradas e de má fé,
acreditam que só porque têm como
lema:
— “conhecei a verdade e a verdade
vos libertará”,
todas
as mentiras e delírios se tornam verdades. Não tornam.
A
verdade existe (embora nunca absoluta) e não é formada apenas por opiniões,
sentimentos e desejos. Fatos, números, fotografias, imagens de satélites,
estudos científicos, experimentos, mostram que a terra é redonda e não há como
a opinião de um ou dois ou dois milhões de terraplanistas façam isso deixar de
ser verdade.
Não
há como o sentimento e o desejo de Bolsonaro desmentir as imagens de satélites
do Instituto Nacional de pesquisas espaciais (INPE), ele pode no máximo
desmentir o presidente do INPE e contratar, com dinheiro público que faz falta
em outras áreas essenciais, uma empresa para moldar os dados a sua imagem e semelhança,
mas não pode forjar a verdade.
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
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