06 agosto 2019

SER-TÃO


Maria Amélia Mano

     Sou de perto de Quixeramobim no Ceará, terra do Conselheiro.

   Sou andarilha desde que amarraram minhas pernas pra endireitar porque são tortas como os galhos do umbuzeiro.

    Desde que decidi que, por serem arco, elas eram mais fortes para caminho e caminhada.

    Tenho pés e mãos pequenas como flores da caatinga e como ela, tenho sede e humildade de enverdecer na mínima gota de chuva.

   Sou de mexer com barro e palavras. Um, suja, o outro, impregna de verdade e poesia, pote de água de beber e ler, sonhar.

    Quero essa mistura de corpo-natureza-inspiração-alma.

 Médica comunitária, educadora popular, contadora de histórias inventadas e reais, periferia, estudando tudo que respira e ensina.

 Quero travessia pra me saber ser-tão e escrever sobre o que me inquieta: as histórias, os saberes de gente simples que cuida e cura, misturados no sol, no chão.


Texto para a seleção do Caminho dos Sertões

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