Maria Amélia Mano
Como
o silêncio do boi no campo, da cidade na madrugada fria, do marinheiro que
atravessa o cais, do relento que se atira da lua, roça na língua, cai no verso
que voa na tábua do balanço no exato tempo da queda da folha, do relâmpago, do
nascimento de um planeta, da morte de uma estrela, que choro, sim, deixo tudo
doer, mudo de casa e de estação, rodeio templos e meus rastros denunciam meus
passos em labirintos, abismos, abandonos, distâncias em andanças pela noite
azul escura, alma azul clara, dou voltas sobre mim mesma como quem se busca sem
se encontrar e se encontra sem se buscar, e assim
será, alívio, descoberta, mistério, porque sou intensidades, sou a
poesia que me sustenta, sou a chuva leve que desejo me molhar, sou a canção
preferida que te dedico, sou todos os que amo, amei e amarei, praia, porque
ainda estamos aqui, vida, dia, tamborilando os dedos, beija-florescendo nas
nossas peles, descobrindo poemas de jardins, versos de quintais e outras
utopias de fazer a gente feliz.
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