31 dezembro 2019

UTOPIAS


Maria Amélia Mano

Como o silêncio do boi no campo, da cidade na madrugada fria, do marinheiro que atravessa o cais, do relento que se atira da lua, roça na língua, cai no verso que voa na tábua do balanço no exato tempo da queda da folha, do relâmpago, do nascimento de um planeta, da morte de uma estrela, que choro, sim, deixo tudo doer, mudo de casa e de estação, rodeio templos e meus rastros denunciam meus passos em labirintos, abismos, abandonos, distâncias em andanças pela noite azul escura, alma azul clara, dou voltas sobre mim mesma como quem se busca sem se encontrar e se encontra sem se buscar,  e assim  será, alívio, descoberta, mistério, porque sou intensidades, sou a poesia que me sustenta, sou a chuva leve que desejo me molhar, sou a canção preferida que te dedico, sou todos os que amo, amei e amarei, praia, porque ainda estamos aqui, vida, dia, tamborilando os dedos, beija-florescendo nas nossas peles, descobrindo poemas de jardins, versos de quintais e outras utopias de fazer  a gente feliz.

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