REI MENINO
Sempre lembro de uma época em que passava férias em
Porto Seguro, na casa dos avós, num tempo que
poucos mais que os navegantes portugueses e indígenas tinham descoberto
a cidade. Ainda eram estradas de terra e campos de pouso onde um teco-teco
voava algumas vezes sobre a pista para que os bichos que pastavam e as crianças
que soltavam arraia saíssem para que pudesse ousar. Nossas viagens para a casa
dos avós, na beira da praia, eram feitas de Salvador até Porto Seguro em um
candango, dormindo a família toda no carro: as crianças dentro, no chão ou nos
bancos (dependia do tamanho de cada uma) e os pais na capota sobre um colchão que creio eu, era
de inflar.
Férias com os primos do Rio de Janeiro, bagunça
certa, muito banho de mar, pitanga e mangaba, brincadeira com os 8 vizinhos de
nomes com a letra H (Até o cachorro se chamava Harauto, eu acho)... A família
ainda tem gente na cidade, bons amigos que convivem atualmente com meu primo que
mora por lá. Naquelas férias de final de ano os 12 primos mais os
vizinhos faziam tudo que uma criança podia fazer durante o dia e dormiam o sono dos
cansadíssimos nas noites de ventinho fresco da beira do mar. Ah mas no dia de
Reis... ficavam acompanhando os grupos
de canto que entravam nas casas cantavam e comiam guloseimas a cada parada. Era
uma noite mágica, carregada de um bem fazer imenso. Uma presença mista de
fantasia e fé, celebrando um rei menino que éramos todos nós, pequenos
descalços do cortejo, os da cidade grande e os da terra, igualados na irmandade
da felicidade do “não tempo” infantil.
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