06 janeiro 2020

REI MENINO


REI MENINO

Sempre lembro de uma época em que passava férias em Porto Seguro, na casa dos avós, num tempo que  poucos mais que os navegantes portugueses e indígenas tinham descoberto a cidade. Ainda eram estradas de terra e campos de pouso onde um teco-teco voava algumas vezes sobre a pista para que os bichos que pastavam e as crianças que soltavam arraia saíssem para que pudesse ousar. Nossas viagens para a casa dos avós, na beira da praia, eram feitas de Salvador até Porto Seguro em um candango, dormindo a família toda no carro: as crianças dentro, no chão ou nos bancos (dependia do tamanho de cada uma) e os pais  na capota sobre um colchão que creio eu, era de inflar.
Férias com os primos do Rio de Janeiro, bagunça certa, muito banho de mar, pitanga e mangaba, brincadeira com os 8 vizinhos de nomes com a letra H (Até o cachorro se chamava Harauto, eu acho)... A família ainda tem gente na cidade, bons amigos que convivem atualmente com meu primo que mora por lá. Naquelas férias de final de ano os 12 primos mais os vizinhos faziam tudo que uma criança podia fazer durante o dia e dormiam o sono dos cansadíssimos nas noites de ventinho fresco da beira do mar. Ah mas no dia de Reis... ficavam acompanhando  os grupos de canto que entravam nas casas cantavam e comiam guloseimas a cada parada. Era uma noite mágica, carregada de um bem fazer imenso. Uma presença mista de fantasia e fé, celebrando um rei menino que éramos todos nós, pequenos descalços do cortejo, os da cidade grande e os da terra, igualados na irmandade da felicidade do “não tempo” infantil.




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