Viagens são sempre algo que gosto de
fazer, sempre conhecemos pessoas, gostos, costumes, cheiros e sabores novos;
enfim, a mim sempre trazem coisas boas que me deixa feliz.
Viajei para o norte da Itália com meu amor
querido e minhas duas mães, uma biológica e a outra do coração. Uma viagem de quinze
dias para belos lugares, que estão registrados através de fotos e livros: são a
memória do sentido e do vivido. Quanta cultura, quantas diferenças.
Minha nonna (avó) dizia: “Todos os países
são mundo”, ou seja, com a dita globalização faz com que nada pareça ser único
e particular, tudo pertence a todos, vemos marcas de carros, de produtos iguais
ao que temos por aqui. É uma aldeia global como já escrevia o canadense
Marshall McLuhan ainda em 1968. Enfim, é o mundo do consumo para todos ou para
o que dele podem participar e ser inseridos.
Vi também que os problemas se assemelham,
o lixo é intenso e não há onde colocar os carros; por mais que diminuam de
tamanho, eles ocupam um lugar, um espaço.
Neste passeio, como uma boa turista,
caminhamos muito, e atribui a dor na perna esquerda devido ao cansaço, mas não
foi bem assim. Acionei a médica do seguro, que me repassou medicação, porém não
melhorei, procurei outro médico que suspeitou de trombose e me encaminhou com
urgência para o hospital. Resumo da ópera: tive que fazer cirurgia e ficar mais
dezesseis dias internada em uma clínica em Bolzano, onde se fala o alemão como
primeira língua e o italiano como segunda. Minhas mães e meu marido retornaram
ao Brasil, fui vitimada pela fasciíte necrotizante, uma doença bacteriana potencialmente
fatal. Mais um dia e minha perna teria que ser amputada ou estaria morta
fazendo parte das estatísticas mundiais.
Dezesseis dias para pensar uma vida porque
é o que realmente aconteceu comigo: sem livros em português, sem familiares ou amigos
da vida, sem o que fazer. Sobraram
apenas eu e meus pensamentos, que me levaram a uma reflexão do que realmente
vale a pena neste curto espaço de tempo que aqui estamos.
Fiz fisioterapia, reaprendi a andar,
enfermeiros e fisioterapeutas me ajudaram com coisas elementares como descer da
cama, tomar banho, ir ao banheiro...
No sorteio entre a vida e a morte, a vida
ganhou e tive minha segunda chance. Uma segunda chance para continuar sendo o
que sou e tendo consciência da finitude humana.
Pensei na importância das pessoas que amo
e me são caras, era difícil imaginar não poder mais revê-las. Pensei em quanto
tempo passamos nos dedicando a trabalhos que nos maltratam e nos levam a alma
embora e que nos deixam azedos e infelizes.
Quantas vezes nossas frustrações nos levam
a compras exageradas, casas megalomaníacas, carros luxuosos, roupas caras e que
não levaremos absolutamente nada disto quando partiremos.
Não espere uma bactéria atingir você para
pensar uma vida.
[Maria
Emília Bottini publica no Rua Balsa das 10 aos Sábados]
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