Morro Reuter é uma pequena cidade
situada na encosta da Serra Gaúcha, um pequeno paraíso que possui
aproximadamente seis mil habitantes. Casas típicas da colonização alemã compõem
a paisagem pitoresca e bucólica que fazem muito bem aos olhos.
Ali conheci Flávio Scholles em seu
próprio ateliê. Um homem de fala simples, mas não mansa, um sábio com seus pincéis
multicoloridos a provocar em mim reflexões. Homem cujas mãos retratam cenas
típicas desta região: os sapateiros, os agricultores, as ritzeletas, as colhedoras de flores, as comidas
típicas, as danças, as galinhas... Suas mais de dez mil obras percorrem o mundo
e contam sobre ele do que o circunda e o indaga.
Conheci-o em um domingo de chuva.
Bati à porta fechada de seu estúdio artístico na beira da estrada. Dei uma
pequena volta ao redor da bela construção que abriga seu ofício. Visualizei-o no
segundo andar a olhar o vale a perder de vista. Não resisti e abanei a mão para
ele que simpaticamente retribuiu o gesto com um sorriso.
Ao abrir a porta, era quase meio-dia.
Minha aspiração de estar com ele se sobrepõe aos tempos e aos movimentos. Fui
convidada a adentrar em seu mundo de cores, imagens e histórias que as paredes
abrigam e dão vida à luz e à sombra. Contou-me rapidamente que Leonel de Moura
Brizola (ex-governador do RS e do RJ) lhe deu uma bolsa de estudos que permitiu
estudar e ser o artista que é hoje.
Generosamente me guia nesse espaço
ricamente cercado de criatividade e de sua forma de interpretar a realidade. A
cada quadro uma aula de vida, e de intensa sensibilidade e paixão pela
humanidade. Homem questionador, de fala rápida, nervosa e intelectualizada que
me encantaram e me intrigaram.
O livro sobre a
mesa Quadros que falam é sua obra
mais recente. Nela muitas páginas dão vazão à sua imensa produção. Seus quadros
são de profunda beleza e encantamento.
De fato suas telas dialogam com quem as vê, com quem as conhece e se aproxima
delas, pois falam do que nos toca, falam de nós mesmos, humanos, por vezes,
desesperador.
O papel do artista não é dar
respostas, mas sim nos conduzir, de forma peremptória, a intrigantes perguntas que
nos fazem pensar. Cores vivas e expressivas entre traços firmes e fortes de
poucos ou quase nenhum retoque. Mulheres, homens, crianças, bichos que se
movimentam num piscar de nossos olhos e conosco compõem a existência.
Recomendo
a quem desejar conhecer suas obras que visite o site http://www.fscholles.net. Homens
como ele são fascinantes e nos tornam melhores. Por um fugaz momento, pude
estar ao seu lado e compartilhar de suas ricas, furiosas e incessantes
indagações em meio da arte que pode ser uma janela para o mundo. Mesmo que esse
mundo seja o interno ansiando para ser exposto, visto e sentido apenas com
alma.
[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das
10 aos Sábados]
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