Aprendi a dirigir com
uma idade avançada, lá pelos 25 anos, antes não tinha interesse.
Meu pai na época me deu
algumas instruções dizendo que sempre mantivesse distância dos carros da
frente.
Tenho medo do trânsito
e de alguns motoristas que me dão arrepios.
Logo que cheguei em
Brasília não queria dirigir, fui apossada pelo medo, mas meu marido insistia
que o fizesse, que o levasse ao aeroporto, visto que viajava bastante. Um dia,
eu dizia que havia me avisado muito em cima da hora, no outro que não podia ir
e ia me cercando de desculpas, por um tempo e elas funcionaram. Um dia nada
funcionou, e tive que levar, quando retornava para casa um grande galho de
árvore caiu na minha frente a cobrir a pista e mais um pouco. O galho caiu do
nada, nem chovendo estava, mas galhos não pedem licença para cair.
Vi a queda, fiquei
preocupada em bater no carro da frente, mas não o fiz. O conselho do meu pai foi
útil e necessário. Ainda tive frações de segundo para olhar no retrovisor para
ver se o motorista de traz não bateria em mim, para minha sorte ele também viu
o galho cair. Fiquei muito preocupada em como sairia daquela condição visto o
fluxo de carros, mas para minha sorte um idoso parou e fez aquele gesto com a
mão a me dar passagem e seguir em frente para meu alívio.
Cheguei em casa e
chorei muito. Chorei por todos os galhos que caíram na minha vida. Depois de me
acalmar, falei com uma amiga que me buscou, fui para sua casa e recebi aquele
colo afetivo regado a chá e conversa.
No dia seguinte voltei
para casa, liguei para minha mãe, devo ter dito que não queria mais saber de
dirigir, ela me passou aquele sermão em que deveria pegar o carro e andar pela
cidade, que se errasse ninguém saberia quem eu era, que se buzinasse não era
para ouvir, mas que não fizesse a bobagem de parar...
Escutei e matutei por
um tempo. Peguei um papel fiz um roteiro por onde desejava passar e lá fui eu
conhecer sozinha a capital do país. Fiz meu tour e voltei para casa quando o
sol estava se pondo. Me senti feliz por ter feito o que deveria fazer, não
desistir. Se não dirigisse naquele momento acho que nunca mais o teria feito.
Dirigir
em Brasília se tornou relativamente fácil depois deste dia, muitos carros
acessam ao Plano Piloto todo dia onde se dirige na velocidade de 80km por hora
no Eixão (com seis pistas), não há trocas de pistas, pois elas causariam
acidentes fatais, como às vezes ocorre. Nos eixos L, comumente conhecidos como
eixinhos, a velocidade é de 60 km por hora, muitos pardais se encarregam de
multar os apressadinhos, poucos se atrevem.
Aprendi que na faixa de
segurança se um pedestre der sinal de vida (mão em movimento), devia parar se
estou dirigindo. Isso me dava segurança atenta para atravessar as faixas na
condição de pedestre. Penso, hoje, que a renda e escolaridade bastante elevadas
funcionava relativamente bem, como não somos tão bons com regras alguns
acidentes são registrados.
Retornei a morar em
Erexim e algo que tem me incomodado profundamente é o trânsito.
Considero mais difícil
dirigir por aqui do que em Brasília. Pode? Sim, pode. Os motoristas parecem
estar estressados e com raiva do mundo com o fato de estarem sempre atrasados
para tudo. Para onde estão indo com tanta pressa? Não há congestionamento,
mesmo assim, dificilmente ligam setas para sinalizar troca de direção. As
distâncias a serem percorridas para se chegar a qualquer lugar são curtas,
confesso que não entendo. O que justifica a impaciência e a grosseria?
Educação? Falta de respeito pelo outro? Dificuldade de se colocar no lugar do
outro? Um dia se é pedestre, mas no outro se é motorista e vice-versa e qual o
problema? Tem uma máxima que ouço: “Está com pressa, sai antes”.
Muitos dizem que são os
motoristas de outros municípios vizinhos que são mal-educados. Sempre é mais
fácil culpar os outros, mas lembrando que todos nós somos responsáveis por
nossos atos e que é humano errar, mas culpar os outros é mais humano ainda.
Faixa de segurança, se
possível avance, não pare.
Pedestre é um problema
a ser eliminado, caras feias, xingamentos, acelerar e quase atropelar (ainda
bem que tem o quase), tornam-se comum ao meu olhar estrangeiro na cidade que
vivo.
Evidente que encontros
bons motoristas pelos caminhos do meu andar pelas ruas.
Por que não poderíamos
ter um pouco mais de paciência ao dirigir? Todos ganhariam com isso, mas com a
má educação e falta de paciência todos perdem.
Entretanto, várias
questões ficam em aberto. Será que nada pode ser feio para mudar? Não dá para
fazer campanhas? Colocar controladores eletrônicos de velocidade nas avenidas?
Utilizar os fiscais para multar os apressadinhos?
[Maria Emília Bottini publica no Rua Balsa das
10 aos Sábados]
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