08 fevereiro 2021

‘SAMININA

 

 


                                                                    ‘SAMININA

 

                    --Saminina! Vai ver quem tá na porta!

E lá foi Ceminha correndo abrir pra quem batia!

-- Seu prefeito e um outro moço pedem entrada!

-- Bem vindos a esta casa humilde! Sáminina, vai providenciar que tragam café e uma talagada!

E lá foi Ceminha correndo pra cozinha.

E a conversa foi se desenrolando na sala, com o velho sentado na cadeira de balanço, confiando a barba e segurando a bengala que dava impulso na cadeira com a outra mão.

--Sáminina! Cadê este café?

Ceminha coloca a cabeça no vão da porta e pede um minuto que tá passando, fresquinho!

-- Traz então a talagada pra gente esperar!

E chegaram junto a bandeja com as xicaras de café e os copinhos de pinga devidamente acompanhados de biscoitinhos, do bule cheiroso e da garrafa da amarelinha colhida no alambique da chácara.

As visitas do Prefeito e do seu sobrinho eram o divertimento do Velho. Impossibilitado de sair à rua por causa das suas dores devidas ao ácido úrico,  com a vista completamente turva por conta da catarata restava receber as visitas para se manter informado de tudo na cidade. E todos os dias era tudo novidade visto que já tinha esquecido boa parte das coisas recentes. Nem o nome da bisneta lembrava mais.  Sabia que por vezes confundia o nome da filha e da neta que moravam na casa “às custas dele”... imperdoável. E muito se irritava com outros homens que circulavam no seu território. Um deles o chamando de pai! Ele que nunca tinha tido filho macho!

Conversas atualizadas, sol baixando, as visitas querendo ir embora...

--Sáminina! Vem levar as visitas no portão!

Corre Ceminha para despachar os dois homens,  Recolher a bandeja e ajudar ao Velho bisavô a se levantar para ir para a varanda onde ficaria a espera da janta.

Antes ficava irritada ao ser chamada de ”Esta menina”.. nem usava seu nome! Mas a mãe explicou que desde sempre qualquer criança era chamada assim... questão de memória, que o bisavô já vinha perdendo desde que ela mesma era criança.  Para Ceminha parecia mesmo menos valia... criança serve pra serviço, não tem nome, não tem vontade... 

--Sáminina! Acode aqui que a bengala caiu!


Maria Lúcia Futuro Muhlbauer 

Escreve às segundas feiras 

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