‘SAMININA
--Saminina! Vai ver quem tá na porta!
E lá foi Ceminha correndo abrir pra quem batia!
-- Seu prefeito e um outro moço pedem entrada!
-- Bem vindos a esta casa humilde! Sáminina, vai providenciar que tragam café e uma talagada!
E lá foi Ceminha correndo pra cozinha.
E a conversa foi se desenrolando na sala, com o velho sentado na cadeira de balanço, confiando a barba e segurando a bengala que dava impulso na cadeira com a outra mão.
--Sáminina! Cadê este café?
Ceminha coloca a cabeça no vão da porta e pede um minuto que tá passando, fresquinho!
-- Traz então a talagada pra gente esperar!
E chegaram junto a bandeja com as xicaras de café e os copinhos de pinga devidamente acompanhados de biscoitinhos, do bule cheiroso e da garrafa da amarelinha colhida no alambique da chácara.
As visitas do Prefeito e do seu sobrinho eram o divertimento do Velho. Impossibilitado de sair à rua por causa das suas dores devidas ao ácido úrico, com a vista completamente turva por conta da catarata restava receber as visitas para se manter informado de tudo na cidade. E todos os dias era tudo novidade visto que já tinha esquecido boa parte das coisas recentes. Nem o nome da bisneta lembrava mais. Sabia que por vezes confundia o nome da filha e da neta que moravam na casa “às custas dele”... imperdoável. E muito se irritava com outros homens que circulavam no seu território. Um deles o chamando de pai! Ele que nunca tinha tido filho macho!
Conversas atualizadas, sol baixando, as visitas querendo ir embora...
--Sáminina! Vem levar as visitas no portão!
Corre Ceminha para despachar os dois homens, Recolher a bandeja e ajudar ao Velho bisavô a se levantar para ir para a varanda onde ficaria a espera da janta.
Antes ficava irritada ao ser chamada de ”Esta menina”.. nem usava seu nome! Mas a mãe explicou que desde sempre qualquer criança era chamada assim... questão de memória, que o bisavô já vinha perdendo desde que ela mesma era criança. Para Ceminha parecia mesmo menos valia... criança serve pra serviço, não tem nome, não tem vontade...
--Sáminina! Acode aqui que a bengala caiu!
Maria Lúcia Futuro Muhlbauer
Escreve às segundas feiras
Nenhum comentário:
Postar um comentário
O que tem a dizer sobre essa postagem?