E DAÍ?
Era malcriada sim, a fama vinha
desde criança. Na infância não levava desaforo pra casa, arregaçava a manga e
partia pra cima. Nada de argumentos, palavras ou negociação. E precisou de
muito esforço para engolir alguns desaforos depois de crescida. Veio profissão,
e trabalho em equipe.. que suplício aturar alguns chefes e colegas, mas resistindo
bravamente seguiu e conseguiu manter o emprego.
Lá pelas tantas deu uma doideira
e pediu demissão e foi trabalhar por si, ganhando um pouco menos mas com seu
gosto e suas regras. Os tempos permitiam estas extravagâncias de se demitir
mesmo gostando da profissão. O negócio era a saúde emocional que no emprego
atrapalhava a criatividade. Aí, por si,
desabrochou num sem números projetos, e se não ganhava a mesma coisa passou a
ser reconhecida e conhecida até fora do meio dos desenhistas técnicos e
artísticos.
Em pouco tempo voltou a rir e gargalhar como
na adolescência.
Um dia entrou um homem sério no
escritório que ficava na garagem da casa dos seus tios. Alugaram confiando que
se eles, velhos precisassem ela socorreria. O homem sério queria que
desenhasse e detalhasse um projeto de
barco. “Mas não sou desenhista naval!” Para ele não importava, Nunca nis seus
15 anos de profissão fizera aquilo. Deu de estudar e aceitou colocando um prazo
alargado, O homem sério sorriu ( e ficou até mais moço!).
Uma semana antes do prazo estava louca, xingando
a si mesma por ter aceitado o trabalho. “Onde estava com a cabeça?” Achou tudo
feio, errado e queria rasgar para começar de novo, mas... o Homem sério
apareceu bem na hora do “piti”. E para o desespero quis olhar. O jeito foi
engolir o desespero e abrir o desenho (numa época que era feito a mão, e não
com programas de computador).
Para sua surpresa o Homem riu, feliz... “para
quem não é desenhista naval está maravilhoso!”
Caiu da cadeira levando a régua e um monte de
lapiseiras. O Homem sério soltou uma gargalhada das cheias, encorpadas. Ela
chegou a engasgar de raiva misturada com surpresa. Imaginou-se estatelada no
chão ridiculamente desajeitada. Mas depois de uma respiração profunda que doeu
a costela, riu também. Afinal havia recebido um elogio!!!
Contrato cumprido e uma fissura no 10° arco
costal... Dinheiro na conta, e um desejo imenso de férias. O homem sério apareceu 2 semanas depois,
justo quando estava buscando uma passagem para o fim do mundo, com uma maçã
meio mordida. Ele queria propor outro projeto, desta vez de uma fábrica que
precisava do detalhamento de certas partes. Sentou e desenvolveu sua ideia e
deixou material para que ela olhasse e avaliasse. Parecia seguro que haveria
aceitação. Disse que ligaria e se foi
sem mais delongas.
Cancela as férias que o projeto é
bom. Caiu de cabeça e não só aceitou como cumpriu em menos tempo que imaginava.
Aí pensou... tudo era pago e
estava em nome de uma companhia e na sua forma “descolada” de trabalhar, nem
sabia o nome do seu contratante! Ligou para avisar que o produto estava pronto,
pegou o endereço da firma enrolou os desenhos e foi entregar. Dali iria até uma agência para compra a passagem
e sair de férias já era o terceiro anos que trabalhava sem parar.
Quem recebeu o material foi uma linda jovem
sorridente que agradeceu de forma simpática e abriu os desenhos dando uma
olhada. Depois apertou a sua mão e agradecendo avisou que iria providenciar o
pagamento antes da data prevista.
Já estava virando as costas para sair quando
escutou a voz do Homem sério falando com a jovem que o chamou de papai! UAU! O cara
não parecia velho o suficiente para ter uma filha adulta mas... olhou sobre o
ombro, saindo e confirmou que era ele
mesmo. Distraída tropeçou nos próprios pés e conseguiu quebrar a costela do outro lado!!!
Mas quebrou mesmo foi a cara ao ser carregada pelo homem sério que a levou ao
atendimento de emergência. E aí
descobriu o seu nome que a fez ter uma crise de risos e de vergonha por causa
disto. O cara se chamava Procópio Augusto. Ao menos não a deixou no meio do caminho
por causa das risadas. E as costelas
quebradas encerraram o segundo trabalho para ele. Mas Procópio parecia bem contente com o serviço e fez uma
proposta de mais dois projetos.
E ela ficou pensando se teria
costela suficientes para seguir trabalhando
para a firma e adiando as férias. Ah havia caído na sedução profissional
do Homem sério, que não suspendera o
serviço quando ela rira na cara dele mas que mudara seus planos de
viagem. Ah , e daí que ia trabalhar mais
um tempinho.
Até os tios acharam interessante ela adiar
férias mas era bom que usava a garagem e estava pertinho deles... Gostavam da
forma dela falar alto com os esquadros, brigar com as lapiseiras, dar tapas na
cabeça. Ah, ela sempre fora meio brabinha mesmo, mas era de bom coração.
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