31 janeiro 2022

CINCO

 

 

 


CINCO

 

Lauro e Mariana foram pais de cinco filhos. O mais velho, Mauro estava com 20 anos e trabalhava no comércio quando chegaram os pequenos. Laureana e Marinauro eram gêmeos e estavam com 17 anos e ainda terminando na escola. A chegada de Robson e Rubens foi conversada com eles e posto que seria necessário, além da aceitação, o compromisso de ajudar a cuidar. Com três jovens e mais o casal, as tarefas domésticas e os trabalhos fora de casa precisavam estar equilibrados. Inicialmente houve um certo receio de “não se dar conta” mas logo passou. Mas ainda houve tempo de amadurecer bem a ideia pois demorou mais de ano e meio até poderem adotar realmente os dois irmãos que vieram com 3 e 5 anos, oriundos de um orfanato, com pouca memória do lar anterior.

Laureana  foi fundamental na adaptação das crianças. Assumiu  o cuidado físico de alimentação e higiene e foi meio que mágico o laço formado. A Mariana isto pareceu uma bênção, poder chegar do trabalho e parte dos cuidados estarem resolvidos era tranquilizador. Marinauro não sabia bem como agir, mas acabou assumindo o lado de brincar e sair com os meninos para ir ao parquinho. Acontece que tinha um medo danado de perder eles e até se acostumar sofreu horrores!

 Lauro ficou, como antes, no papel de provedor e Mauro o imitava, saindo para trabalhar cedo e estudando de noite, Ficou um pouco ressentido de ter que trabalhar e dividir seu salário em casa mais do que antes e adiar seu ´projeto de estagiar na profissão pois isto significava mais tempo como comerciário antes de poder ser mecânico de grandes motores como almejava. Mas, o pouco convívio com os pequenos deixava um riso no ar e isto “salvava a situação”.

 O casal, remoçado com a responsabilidade de filhos pequenos, realmente remoçou, passou a sorrir mais, e todos perceberam os risos e brincadeiras dentro da família.

 Creche, escolinha, parquinho, brinquedos pelo chão... tudo compensava as noites de choro, os já acabei e a comida derramada às refeições, as limpezas extras de banheiro e  os narizes melequentos.

Mais 3 anos se passaram e o quadro mudou muito. Marinauro fez vestibular e foi morar numa república perto da universidade. Mauro saiu de casa para trabalhar, na profissão de seus sonhos,  num estaleiro de manutenção no sul do país e seu dinheiro servia para se manter. Raramente enviava algum dinheiro pra casa. Lauro arrumou bicos extras para complementar a renda. Isto ocupou várias noites da semana e Mariana precisava dar conta das crianças e da casa com a ajuda da filha. Laureana não se incomodou de início, mas quando arrumou um namorado o pouco tempo entre casa criança e estudo ficou evidente e o rapaz pressionou para “ter mais atenção”. Mariana percebeu a situação e que não havia pensado nesta etapa ao assumir os novos filhos. Ficou num dilema, liberar a filha de alguns encargos e ficar com eles, cansada e sem tempo para dar atenção aos pequenos, liberar a filha do cuidado com os irmãos?  Ou pressionar para que mantivesse firme e levasse o namoro no pouco  tempo que tinha?

 Mas enquanto a conversa não ia adiante, Laureana desistiu de estudar. Surpreendeu a todos pois sempre fora boa estudante, embora não desejasse entrar na universidade. Estava feliz com o curso técnico na área de saúde que abraçou a partir do segundo ano do segundo grau... faltava apenas um ano para terminar!!! Mas o namorado não via futuro neste tipo de profissão e como tomava tempo e ela não queria deixar as tarefas da casa todas para a mãe... considerou que era menos uma despesa.

Difícil a vida se o olhar é de carga... os risos foram diminuindo e os pequenos passaram a solicitar outras atenções com seus deveres de casa e escolinhas de esportes para gastarem ao menos a energia presa num apartamento, e já não dividiam as idas à rua com Marinauro... sem ir ao curso, Laureana assumiu a tarefa ( para alívio da mãe)  e isto possibilitava encontros com o namorado.

Mariana se acomodou um pouco com a situação, a filha tinha tempo de seguir numa profissão mais adiante... E interromper o curso fora uma escolha dela... Mas no fundinho batia um medo...

Dois anos acomodados com a situação, namoro da Laureana firme, meninos evoluindo bem na escola, adaptados e felizes na família, assumindo algumas tarefas e precisando de menos supervisão para irem a escola e atividades desportivas... Um suspiro nos  bicos do Lauro pois Mauro foi promovido e passou a mandar dinheiro com regularidade. Vindas de Mainauro sempre uma festa... Tempo bom até a crise de Laureana... namoro terminado e gravidez indesejada... E a casa de pernas pro ar! As crianças curtiram serem tios os mais velhos deram de machistas e vieram pra casa pensando em tomar satisfação com o cara, os pais divididos entre apoiar e acolher e temer pelo futuro. Laureana em crise por ter abandonado o curso em troca do namorado que nem assumiu a gravidez.

 Dois meses de confusão, e a família deu um salto para diante, os pequenos se comprometeram mais com as tarefas de casa, e estimularam a irmã para que retomasse o curso mesmo grávida. Os rapazes retomaram suas tarefas de estudo e trabalho e Marinauro reorganizou seus horários e assumiu mais uma monitoria para diminuir mais sua mesada  e poder se manter na república, Mariana  passou a cantar músicas de ninar durante as tarefas de casa e a trazer pequenas coisinhas ao voltar do trabalho, ora um sapatinho, ora uma toalhinha de fralda, e um raminho de flores que deixava do lado da cama da filha... Pensava consigo... novas tarefas, novas rotinas, novos amores, ... seria menino? Menina?  Lauro daria um excelente avô...

 E a vida foi mudando... E acabaram apreciando os momentos mais que os projetos.

 

Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas feiras

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O que tem a dizer sobre essa postagem?

Postagem mais recente no blog

QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?

                ? QUAL O MOTIVO DA SURPRESA?   Camila chegou de mansinho, magra, esfaimada, um tanto abatida e cabisbaixa. Parecia est...

Postagens mais visitadas no blog