CINCO
Lauro e
Mariana foram pais de cinco filhos. O mais velho, Mauro estava com 20 anos e
trabalhava no comércio quando chegaram os pequenos. Laureana e Marinauro eram
gêmeos e estavam com 17 anos e ainda terminando na escola. A chegada de Robson
e Rubens foi conversada com eles e posto que seria necessário, além da
aceitação, o compromisso de ajudar a cuidar. Com três jovens e mais o casal, as
tarefas domésticas e os trabalhos fora de casa precisavam estar equilibrados.
Inicialmente houve um certo receio de “não se dar conta” mas logo passou. Mas
ainda houve tempo de amadurecer bem a ideia pois demorou mais de ano e meio até
poderem adotar realmente os dois irmãos que vieram com 3 e 5 anos, oriundos de
um orfanato, com pouca memória do lar anterior.
Laureana foi fundamental na adaptação das crianças.
Assumiu o cuidado físico de alimentação
e higiene e foi meio que mágico o laço formado. A Mariana isto pareceu uma bênção,
poder chegar do trabalho e parte dos cuidados estarem resolvidos era
tranquilizador. Marinauro não sabia bem como agir, mas acabou assumindo o lado
de brincar e sair com os meninos para ir ao parquinho. Acontece que tinha um
medo danado de perder eles e até se acostumar sofreu horrores!
Lauro ficou, como antes, no papel de provedor
e Mauro o imitava, saindo para trabalhar cedo e estudando de noite, Ficou um
pouco ressentido de ter que trabalhar e dividir seu salário em casa mais do que
antes e adiar seu ´projeto de estagiar na profissão pois isto significava mais
tempo como comerciário antes de poder ser mecânico de grandes motores como
almejava. Mas, o pouco convívio com os pequenos deixava um riso no ar e isto “salvava
a situação”.
O casal, remoçado com a responsabilidade de filhos
pequenos, realmente remoçou, passou a sorrir mais, e todos perceberam os risos
e brincadeiras dentro da família.
Creche, escolinha, parquinho, brinquedos pelo
chão... tudo compensava as noites de choro, os já acabei e a comida derramada às
refeições, as limpezas extras de banheiro e os narizes melequentos.
Mais 3 anos
se passaram e o quadro mudou muito. Marinauro fez vestibular e foi morar numa
república perto da universidade. Mauro saiu de casa para trabalhar, na profissão
de seus sonhos, num estaleiro de manutenção
no sul do país e seu dinheiro servia para se manter. Raramente enviava algum
dinheiro pra casa. Lauro arrumou bicos extras para complementar a renda. Isto ocupou
várias noites da semana e Mariana precisava dar conta das crianças e da casa
com a ajuda da filha. Laureana não se incomodou de início, mas quando arrumou
um namorado o pouco tempo entre casa criança e estudo ficou evidente e o rapaz
pressionou para “ter mais atenção”. Mariana percebeu a situação e que não havia
pensado nesta etapa ao assumir os novos filhos. Ficou num dilema, liberar a
filha de alguns encargos e ficar com eles, cansada e sem tempo para dar atenção
aos pequenos, liberar a filha do cuidado com os irmãos? Ou pressionar para que mantivesse firme e
levasse o namoro no pouco tempo que
tinha?
Mas enquanto a conversa não ia adiante,
Laureana desistiu de estudar. Surpreendeu a todos pois sempre fora boa
estudante, embora não desejasse entrar na universidade. Estava feliz com o
curso técnico na área de saúde que abraçou a partir do segundo ano do segundo
grau... faltava apenas um ano para terminar!!! Mas o namorado não via futuro
neste tipo de profissão e como tomava tempo e ela não queria deixar as tarefas
da casa todas para a mãe... considerou que era menos uma despesa.
Difícil a
vida se o olhar é de carga... os risos foram diminuindo e os pequenos passaram
a solicitar outras atenções com seus deveres de casa e escolinhas de esportes
para gastarem ao menos a energia presa num apartamento, e já não dividiam as
idas à rua com Marinauro... sem ir ao curso, Laureana assumiu a tarefa ( para
alívio da mãe) e isto possibilitava
encontros com o namorado.
Mariana se
acomodou um pouco com a situação, a filha tinha tempo de seguir numa profissão
mais adiante... E interromper o curso fora uma escolha dela... Mas no fundinho
batia um medo...
Dois anos
acomodados com a situação, namoro da Laureana firme, meninos evoluindo bem na
escola, adaptados e felizes na família, assumindo algumas tarefas e precisando
de menos supervisão para irem a escola e atividades desportivas... Um suspiro nos
bicos do Lauro pois Mauro foi promovido
e passou a mandar dinheiro com regularidade. Vindas de Mainauro sempre uma
festa... Tempo bom até a crise de Laureana... namoro terminado e gravidez
indesejada... E a casa de pernas pro ar! As crianças curtiram serem tios os
mais velhos deram de machistas e vieram pra casa pensando em tomar satisfação
com o cara, os pais divididos entre apoiar e acolher e temer pelo futuro. Laureana
em crise por ter abandonado o curso em troca do namorado que nem assumiu a gravidez.
Dois meses de confusão, e a família deu um
salto para diante, os pequenos se comprometeram mais com as tarefas de casa, e
estimularam a irmã para que retomasse o curso mesmo grávida. Os rapazes
retomaram suas tarefas de estudo e trabalho e Marinauro reorganizou seus
horários e assumiu mais uma monitoria para diminuir mais sua mesada e poder se manter na república, Mariana passou a cantar músicas de ninar durante as
tarefas de casa e a trazer pequenas coisinhas ao voltar do trabalho, ora um
sapatinho, ora uma toalhinha de fralda, e um raminho de flores que deixava do
lado da cama da filha... Pensava consigo... novas tarefas, novas rotinas, novos
amores, ... seria menino? Menina? Lauro
daria um excelente avô...
E a vida foi mudando... E acabaram apreciando
os momentos mais que os projetos.
Maria Lúcia Futuro
Mühlbauer
Escreve às segundas
feiras
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