PREPARANDO
Começou um fuzuê na casa. Avó, agitada, mãe tentando dar
conta das demandas, gente entrando e saindo sem parar.
Já havia um tempo que se falava em espera, chegada, renovação
e outras coisas que as crianças intuíam serem boas, mas que eram idéias vagas,
nem um pouco concretas e, portanto, ainda intangíveis para a pirralhada. Sabiam
que alguma coisa importante se aproximava. As crianças percebiam toda a energia
da expectativa que estava no ar. Os menores voltavam seus olhinhos para os
adultos em busca de resposta, mas não perguntavam alto. As crianças maiores
falavam mesmo que queriam saber o que estava acontecendo. Os adultos faziam
cara de mistério e diziam que era uma surpresa. Como era época de preparativos
para o Natal, imaginavam que seria
alguma coisa relacionada a esta festa ou ao Ano Novo que viria logo após
no calendário da parede.
Preparação, expectativa, agitação geral e a aura de
mistério...
A cada dia a tensão criada propositalmente pelos adultos
aumentava, a casa estava numa espera e
num clima de boa expectativa. Começaram
a aparecer caixas embrulhadas e misteriosas, e um quarto foi fechado com elas
dentro. A pirralhada escutava uns barulhos que vinha de trás da porta quando o “vô” entrava sorrindo
e trancava a porta. Ah mesmo sabendo que era inadequado todos tentavam espiar
pelo buraco da fechadura, os grandinhos abaixavam-se outros apenas ficavam na
ponta dos pés e os pequenos arrumaram uma maneira criativa e cooperativa: um
deitava e o outro subia nas costas para espiar. Mal dava para perceber as
costas do avô... frustrante...
Quase Natal e a
família com árvore, coroa com velas das cores do advento, presépio e até
novena. Nada de surpresa, nada de novo, até que bem na noite do dia 24, os
adultos permitiram que todos se reunissem para um jantar e anunciaram que era
chegada a hora da surpresa. O sono dos menores se via nos olhos que queriam se
fechar, mas a curiosidade era maior que tudo e tentaram manter a cabeça ereta,
com leves quedas ocasionais.
Todos à mesa e
sobraram 2 lugares... ninguém falava nada até que a campainha tocou e o Vô levantou
mais rápido que todos e foi abrir a porta. SURPRESA! Entrou tia Rita, a caçula dos irmãos de braços dados com um homem
alto, muito diferente de tudo o que as crianças já haviam visto. Usava um
vestido enorme de cores forte, um turbante na cabeça e tinha um imenso sorriso
branco contrastando com sua pele negra. Como carvão. A tia Lena era preta, mas
era de pele marrom e seus 3 filhos também era deste tom. O vô era moreno de
cabelos branquinhos e usava um boné às vezes. Os 2 tios eram mais claros pois
tinham puxado à avó (que jovem era ruiva de olhos verdes e cheia de sardas no
corpo) que sorria e chorava ao mesmo tempo vendo a filha entrando feliz.
Um alvoroço. Algumas
das crianças não se lembrava da tia “ao vivo”, só nos vídeos ocasionais. Ela morava
muito longe, num lugar que eles não sabiam dizer o nome. Ver a tia deu uma imensa emoção e despertou
de vez os pequenos. O homem alto falou num português esquisito que desejava a
todos um feliz natal. Algumas das crianças riram do sotaque, e os adultos
apreciaram o esforço do cunhado.
Bolsas, malas, presentes e foi preciso a vó chamar alto para
comerem antes que esfriasse tudo. Rita e
Isac lavaram rapidamente as mãos e retiraram os casacos para sentarem... Aí sim
foi a SURPRESA verdadeira para todas as crianças a barriga da tia estava
enorme!!!
E chegou bem na hora de celebrarem a renovação, a esperança e
os laços familiares. Mal deu tempo de acabarem de jantar e a chegada
prenunciada se manifestou. As crianças maiores já haviam visto outros nascerem
e comentaram entre alegres e pesarosos: este só vai ter aniversário junto com
Natal.. uma festa e um presente.
Os avós emocionados olhavam abraçados a saída rápida do casal
que mal havia chegado e acariciavam as cabecinhas dos pequenos que já não
conseguiam manter olhos abertos. Levaram as coisas do casal para o quarto
fechado (nem chegaram e entrar e ver as novidades (uma cama grande com um
bercinho acoplado) e foram ajudar a deitar os pequenos. Ainda bem que a casa
ainda era a mesma dos tempos dos filhos solteiros, com quartos suficientes para
abrigar crianças e adultos com certe privacidade. Pequenos com os pais e primos
grande juntos numa farra constante.
E dia 25 amanheceu com
Frederico nascido com um tufo de cabelos negros caracolados e com olhinhos imensos
e cinzas, curioso para ver o mundo. Quem poderia desejar Natal melhor?
Maria
Lúcia Futuro Mühlbauer
Escreve
às segundas feiras
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