15 janeiro 2024

PONTA CABEÇA

 

 



PONTA CABEÇA

Uma dor intensa provocou a abertura dos olhos. Demorou um pouco a se localizar e demorou mais um pouco parasse aperceber do entorno, do que havia.

Primeiro abriu e fechou a mão esquerda e a outra, mexiam. Tentou com os pés e percebeu que doíam as costas ao mobilizar. Não viu ninguém por perto, resolveu ir se aprumando sem ajuda e com calma. Mas as costas incomodavam muito. Lembrou de virar de lado para tentar levantar. Lentamente foi se assumindo até se sentar no meio da calçada! Encostou num muro e ficou matutando como estava ali... Pelo visto estava caído no chão, de costas numa calçada irregular e num local sem movimento. Ninguém pra socorrer, ninguém por perto. Ficou de pé com cuidado encasquetado com o que poderia ter acontecido. A cabeça tinha um enorme galo e as costas doíam aos mínimos movimentos, foi reconstituindo os fatos do dia e lembrando o que tinha feito no dia. Café com calma na varanda, ida ao Campo de São Bento para uma olhada nas crianças e velhos que passeava, um regozijo sutil por estar aposentado e poder desfrutar destas pequenas beleza, um vaso de flores comprado... olhou ao redor e não viu nem as flores nem sua carteira e muito menos seu celular. Franziu o senho, teria sido abordado e assaltado? Estava sozinho na rua voltando para casa... lembrava de um latido bem perto de si e nem chegara a se virar para olhar. Hummmmm seria um tombo por um atropelamento por um cachorro? E as flores? E a carteira? E o Celular. Resolveu caminhar com cuidado na direção de casa. Ainda se sentia tonto mas ao menos nada estava quebrado. Levou uns 15 minutos para chegar na esquina onde encontrou sua carteira estraçalhada com os cartões de banco mastigados e o dinheiro intacto. Riu de si... atacado por trás por um monstrinho mastigador. Mais adiante as flores fora do vaso ainda tinham algumas partes inteiras, mas triste mesmo foi o celular novo, quebrado, mastigado e imprestável... na boca do meliante que o comia descaradamente deitado num canteiro da rua. Nem chegou a ter raiva, acabou achando graça de estar relativamente bem e poder contar a aventura de ter visto a rua de outro ângulo... Sempre há como aproveitar... e chegou em casa com um andar cambaleante e um sorriso que ninguém entendeu.

 

                                                                                                          Maria Lúcia Futuro Mühlbauer

Escreve às segundas-feiras

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