PONTA CABEÇA
Uma dor intensa provocou a abertura dos olhos. Demorou um
pouco a se localizar e demorou mais um pouco parasse aperceber do entorno, do
que havia.
Primeiro abriu e fechou a mão esquerda e a outra, mexiam.
Tentou com os pés e percebeu que doíam as costas ao mobilizar. Não viu ninguém
por perto, resolveu ir se aprumando sem ajuda e com calma. Mas as costas
incomodavam muito. Lembrou de virar de lado para tentar levantar. Lentamente
foi se assumindo até se sentar no meio da calçada! Encostou num muro e ficou
matutando como estava ali... Pelo visto estava caído no chão, de costas numa
calçada irregular e num local sem movimento. Ninguém pra socorrer, ninguém por
perto. Ficou de pé com cuidado encasquetado com o que poderia ter acontecido. A
cabeça tinha um enorme galo e as costas doíam aos mínimos movimentos, foi reconstituindo
os fatos do dia e lembrando o que tinha feito no dia. Café com calma na varanda,
ida ao Campo de São Bento para uma olhada nas crianças e velhos que passeava,
um regozijo sutil por estar aposentado e poder desfrutar destas pequenas beleza,
um vaso de flores comprado... olhou ao redor e não viu nem as flores nem sua
carteira e muito menos seu celular. Franziu o senho, teria sido abordado e
assaltado? Estava sozinho na rua voltando para casa... lembrava de um latido bem
perto de si e nem chegara a se virar para olhar. Hummmmm seria um tombo por um
atropelamento por um cachorro? E as flores? E a carteira? E o Celular. Resolveu
caminhar com cuidado na direção de casa. Ainda se sentia tonto mas ao menos
nada estava quebrado. Levou uns 15 minutos para chegar na esquina onde
encontrou sua carteira estraçalhada com os cartões de banco mastigados e o
dinheiro intacto. Riu de si... atacado por trás por um monstrinho mastigador.
Mais adiante as flores fora do vaso ainda tinham algumas partes inteiras, mas
triste mesmo foi o celular novo, quebrado, mastigado e imprestável... na boca
do meliante que o comia descaradamente deitado num canteiro da rua. Nem chegou
a ter raiva, acabou achando graça de estar relativamente bem e poder contar a
aventura de ter visto a rua de outro ângulo... Sempre há como aproveitar... e
chegou em casa com um andar cambaleante e um sorriso que ninguém entendeu.
Maria
Lúcia Futuro Mühlbauer
Escreve às
segundas-feiras
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