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18 agosto 2017

DEZ HISTÓRIAS SOBRE A INTERNAÇÃO DA MENINA DE OLHOS AMARELOS - 1 O DOENTE DO LEITO AO LADO

Sorriso amarelo. Alice, 2017.
Ernande Valentin do Prado

O menino da cama ao lado tem dez anos, um a mais do que a menina dos olhos amarelos.
- Ele vai embora hoje...
Disse a mãe, sem conseguir conter a alegria. Em casa tinha outras duas filhas, uma de dezesseis anos e outra ainda mamando no peito, nestes dias quase abandonadas por conta da internação do menino.
A menina, até então muito contente com a companhia do novo amigo, tão prestativo e atencioso, não conseguiu esconder a tristeza. Sabia que ele precisava ir, hospital não é lugar onde deve-se demorar, sentia que deveria estar feliz por ele, mas...
- Eu volto pra te visitar...
Disse o menino, vendo como o rosto dela se transformou em segundos, coisa que a mãe não percebeu, satisfeita em poder ir para casa cuidar dos outros filhos, do marido, da vida que acontecia fora daquelas paredes.
- ... caso você ainda fique mais tempo, eu venho te visitar, mas prefiro que vá embora logo. Você já está bem melhor hoje.
No início a menina ficara sozinha no quarto de dois leitos, por quase duas semanas. Gostara de não ter que dividir espaço com outras pessoas, embora não se sentisse bem com o modo como algumas enfermeiras e médicas se referiam a ela e a sua doença. Eles agiam como se apenas por lhe olhar fossem ser infectadas. Definitivamente isso era muito desagradável.
O diagnóstico inicial era de hepatite infecciosa, embora não se soubesse qual o agente infecioso. Pensava preocupada que quando fosse embora não reconheceria todas as pessoas que entraram em seu quarto, porque algumas só via de mascaras, luvas e jalecos branco, como se estivessem com nojo dela.
Depois que descobriram que ela não era um ninho de vírus mortal, entrou o menino. Tinha pressão alta causado por uma bactéria nos rins, disse a mãe. Acompanhada a menina pareceu melhor, até começou a comer mais, falar mais, brincar mais, brigar menos. Juntos passavam o dia na brinquedoteca, desenhavam, pintavam. No quarto conversavam até dormir de cansados, contava ao pai, a mãe que passava as noites com a menina.
- Coitado dele, né pai?
[Ernande Valentin do Prado publica no Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]

Partes a publicar:

2 Abandonados   
3 Kafkiano
4 O Cerco        
5 Regras    
6 Respeito 
7 Comunicação Perfeita         
8 Cuidada 
9 Contrabando     
10 Brinquedoteca

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