Tatuagem de parede - Fotografada próximo ao DCE na UFPB - outubro de 2015 |
Ernande
Valentin do Prado
O novo filme Exterminador do Futuro, Genesis,
se não chega ser bom, é bastante aceitável. Isso de voltar no tempo dá
infinitas possibilidades de recontar a mesma história o tempo todo e ainda assim
ter algo de novo e coerente. A gente já tinha visto uma história ser a mesma e
ao mesmo tempo diferente em Jornada nas Estrela (na minha opinião a melhor
recriação até agora). Mas se não dá para dizer que O Exterminador do Futuro - Genesis,
é bom, ao menos dá para dizer que não é ruim.
Uma revelação que tive vendo o filme: nós,
seres humanos, temos uma capacidade imensa de ver nossos próprios defeitos,
nossas grandiosidades e, humanizar o que por natureza não é humano. As fábulas,
em que animais falam e apresentam sentimos e comportamentos coom se gente
fossem, são um exemplo, um gênero inteiro sobre essa transmutação de nós em
outros seres e dos outros seres em nós.
Pinóquio talvez seja, em minhas lembranças ao
menos é, a primeira criatura inanimada a tomar forma e jeito humano, o que veio
depois, com os robôs, é uma variação. Algumas muito bem feitas, por sinal. Quem
não se lembra do filme mais triste já feito na história do cinema: Inteligência
Artificial, em que um robô programado para amar a mãe vai até as últimas
consequências para cumprir sua programação, mesmo sendo desprezado?
Alguns seres humanos parecem ser programados e
fazem isso também, mas isso é outra conversa. Tem duas coisas interessantes que
constatei vendo o Exterminador do Futuro, gênesis:
1. Maquinas
adquirem comportamentos e sentimos humanos e podem ser, algumas vezes, mais
humanas do que os humanos. Isso não deixa de ser verdade.
No dia seguinte li na internet
que na Grécia começou a rodar ônibus sem motoristas. Vi nisto um exemplo do que
as máquinas podem fazer melhor do que os seres humanos. Quem já rodou nas
linhas 303, 5605, 2515, 5210 em João Pessoa (ou em qualquer linha em Aracaju,
em Sergipe) sabe que os motoristas não podem ser seres humanos. Ou melhor (quer
dizer, ou pior), são seres humanos que perderam a capacidade de ser humanos, de
sentir como sentem outros seres humanos. Penso que, dessa forma, justificam os
péssimos salários que ganham, a falta de investimentos dos empresários no profissional,
na capacitação, na melhoria das condições de trabalhos, que realmente são
péssimas. Empresários do transporte coletivo (com raras exceções – não conheço
nenhuma - assim como de outros setores (ao menos como regra) só se interessam
pelos lucros. Empregado é como carne no moedor, como laranja que depois de
chupada, joga-se o bagaço no lixo ou pelo chão mesmo (eles moram em Miami).
Máquinas podem ser programadas
para agir como seres humanos e isso é irreversível, ao menos no cinema. Isso se
vê em o exterminador do futuro, onde uma máquina é programada para proteger o
ser humano e dá a vida por isso, também se vê em Blade Runner, em que androides
assassinos desenvolvem sentimos e empatia humana e passam a valorizar a vida,
até do inimigo; vê-se em Galáctica, em que Cylonios trocam de lado na luta e
não voltam atrás nem ao perceber o quanto um ser humano pode ser sórdido. Mas
será que seres humanos maquinizados podem voltar a ser seres humanos?
Isso quase nunca dá certo (ao
menos no cinema).
2. Seres
humanos são capazes de agir como máquinas, embora podendo escolher fazer isso
ou não, quase sempre (mesmo tendo que arcar com as consequências). Nesse filme
temos dos dois lados: a máquina fazendo o trabalho que deveria ser feito pelo
ser humano e faz isso bem melhor, com dignidade humana e o humano fazendo o
trabalho da máquina, e fazendo isso como uma máquina exemplar, sem amor, sem
dignidade, sem refletir por um minuto sequer, sem ter dúvidas ou melhor, sem se
permitir ter dúvidas.
Acho tudo isso perturbador,
por ser, ao menos para mim, meio que um retrato das atuais possibilidades
humanas.
Quem nunca viu, por exemplo, o
empregado defender o direito do patrão de ter lucro e explorar, até melhor e
com mais fúria do que o patrão? Quem nunca viu a vítima ser tomada culpada por
ser estuprada, por ser roubada, por estar doente, por ser pobre, por existir?
Então, humano fazendo o papel
de máquina e máquina o papel de humano, deve ser possível também.
Bom! Sobre o que tenho de bom (para dizer) sobre o
sistema de partidos políticos na república federativa do brasil: não
consigo lembrar de nada, antigamente (bem antigamente) sabia alguma coisa, mas
agora, sinceramente não lembro de nada. Mas ao menos falamos sobre
exterminadores humanos e humanos exterminadores.
[Ernande Valentin do
Prado publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]