Ernande Valentin
do Prado
Durante o período obrigatório
eram realizadas marchas: 6, 12, 16, 32 quilômetros. Nestas marchas éramos
obrigados a usar todos os equipamentos usados em combate, conforme nosso
esquadrão. No meu caso, tinha que carregar a placa do morteiro, mochila com
manta, capa de chuva, cantil com água, que deveria ir na cinta, mas era muito
incomodo e todo soldado safo carregava na mochila. Também carregada uma pistola
9mm. Eu levava vantagem, em relação aos demais soldados, embora carregar a
placa do morteiro fosse bem desagradável.
Na reta final da marcha de 18
KM, por algum motivo que não me recordo, o Aspirante a tenente se irritou com De
Piere, o responsável pelo rádio, um instrumento pesado e desajeitado. Ele
começou a fazer o soldado carregar os fuzis de outros soldados, além do rádio e
sua mochila. Ele já estava com três fuzis e o aspirante continua lhe dando mais
coisas para carregar.
Em determinado momento achei
aquilo absurdo demais e me ofereci para ajuda o soldado, que era um tanto
desajeitado, mas leal, confiável, incapaz de fazer maldades com outros.
- Tenente, sou voluntário para
ajudar De Piere.
- Prado, não se mete. Cuide de
sua vida.
Disse isso e continuou em
direção a retaguarda do pelotão. Continuamos marchando. Eu Cada vez mais
indignado com aquela atitude, com a injustiça Praticada com o colega de farda.
Vez ou outra ele voltava e
perguntava para De Piere:
- Tá pesado, De Piere?
Não importava a resposta, ele sempre
arrumava mais alguma coisa para o soldado carregar.
- Prado, passe sua placa para
o De Piere carregar. Disse o aspirante.
- Ele já está com coisas
demais, não tem como carregar mais nada. Disse eu. Mas o oficial pegou a placa
de minha mão e entregou ao soldado.
Subiu o sangue em minha
cabeça, tentei reagir, mas o próprio De Piere disse para eu deixar para lá.
Acho que deixei, pois não lembro o que aconteceu depois.
[Ernande
Valentin do Pradinho publica na Rua Balsa das 10 às 6tas-feiras]
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