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04 março 2019

LETRAS







L     T      A
       E               S
       R



Maria Lúcia Futuro Mühlbauer  

Vira e Mexe D Alzira reclama do marido... Reclama da carga que aguenta com o trabalho dobrado, ainda agora que os filhos casaram. Sempre sonhou com livros, estudos, cadernos, lições... Mas seu dono, que a mantém (nem percebe que faz dela escrava de casa, cama e mesa) sempre proibiu estudo. Quando pequena os pais nem valorizavam, e moravam num lugar que tinha escola perto... Diziam: pra que quer ela estudar? É burrinha mesmo. Tentamos mostrar as letras mas... Não completou nem o nome.
Cresceu vendo os amigos passarem na porta caminho da escola e nenhum sequer achou que ela podia aprender a ler... Casou por vontade da família com o moço da venda que sabia ler e contar... Inveja!
Agora aos 55 anos parece uma velha, tem dor no corpo quando faz faxina mais forte, mas continua a sonhar com livros e letras. Nos domingos fica namorando a neta que está juntando letras e já fala uma frase só de olhar... Inveja!!!
Na semana que entrou, depois de ver a neta começando a ler, teve um aperto no peito, a chefe do escritório mandou para o SUS com um bilhete... Demorou para ser atendida na emergência e uma médica bem mocinha escutou os peitos, o coração, apertou a barriga. Daí ela lembrou de entregar o escrito pra doutora ler. A moça olhou, para o bilhete e de volta para D Alzira que tinha olhos de curiosidade: Ô dona doutora, o que diz aí? 
A médica abriu um sorriso e disse: nada não, você está é bem cansada, esgotada... E parece triste. Pode me contar o que há? D. Alzira teve os olhos transbordados de água, nunca ninguém perguntara a ela isto! Balançou a cabeça, baixou o olhar, enxugou o rosto com as costas das mãos e respirou fundo. A doutora mocinha esperou... Coisa rara ter este tempo... Mas esperou, sim, uns minutinhos. D Alzira respirou fundo outra vez, e firmou o olhar... Ah, dona doutorinha, acho que estou entalada de letras engolidas sem formarem palavras.

A médica sorrir e receitou Mobral.
[Maria Lúcia Futuro Mühlbauer, publica no Rua Balsa das 10 às 2tas-feiras]

03 junho 2013

Um sonho pra sonhar junto... um texto de Maria Lúcia Futuro






Maria Lúcia Futuro
Para Ernande

A mim foi dado experimentar coisas comuns de uma forma especial... Infância, crescimento e vida adulta, com todos os altos e baixos de todas as fases explícitos... Rebeldia, criatividade, entregas a ideais... tudo em cores vibrantes.

Maternidade, amamentação, educação, saúde... contatos maravilhosos com gente que entende da prática de criar filhos... Amigas do Peito... um grupo que surgiu em 1980 e que de “Peito Aberto troca experiências do dia a dia da maternidade desde seu início...

Como deixar de partilhar momentos incríveis, projetos interessantes e uma enorme gama de olhares sobre o tema da amamentação, por exemplo? “Focar” a amamentação com um caleidoscópio... que a cada pequeno movimento se apresenta completamente diferente e fascinante?

E como deixar de se encantar com cada ângulo de visão? Amamentação como descoberta, como uma experiência física, biológica, amamentação como um caminho cultural, como uma arte, como uma vivência emocional, amorosa, psicológica, espiritual e animal ao mesmo tempo!!! Um corpo amamentando e uma troca de olhares fluindo, do peito britando leite e um encontro de almas acontecendo, um colo e uma pequena mão embalando a mãe? Como mapear esta trilha para que possa ser descoberta e caminhada por quem desejar seguir? Como deixar de lado a oportunidade de formação do conceito da amamentação no meio de uma realidade já tão distante da nossa própria natureza, que se espanta como os fluidos do corpo, que se sente sem tempo, capaz de comprar e consumir com desembaraço e rapidez.

Falar de amamentação como uma prática ecológica onde o leite é específico não só para espécie como para o indivíduo... Pensar a amamentação como um ato econômico onde não existe intermediário, indústria, embalagens, transporte nem preparo custoso e poluente... Propor que a amamentação permaneça um ato político, de decisão familiar e pessoal como direito humano de bebês, suas mães e seus pais.

Após ter errado e acertado durante o aprendizado da amamentação com meus filhos fiquei imaginando quanto pessoal é cada caminho de maternidade e como o que conhecemos no nosso coração, na nossa vida pode determinar que esta prática flua mais ou menos. Ter sido amamentada, ter brincado de amamentar nos folguedos infantis, ter amigos participando destas brincadeiras, com certeza, facilitou quando amamentei meus filhos. Ter uma família que acreditava e tinha experiência na amamentação também foi decisivo: apoio...

Hoje sinto um grande desejo de investir na amamentação como um ato de completude inicial... completude no sentido de nutrição profunda, física com seus sais minerais, proteínas, etc. e nutrição das energias vitais de amor, alegria, satisfação... que podem resultar em um mundo mais pacífico, fraterno e saudável.

Apostar na semeadura da possibilidade de nascer bem, amamentar e desmamar com confiança, nos grupos de apoio, nos locais de atendimento à família, nas creches, na escola... é o sonho que desejo sonhar junto.

Desde a década de 1990, uma experiência com crianças e professores me deixou encantada, e encantamento é tudo de bom, gente! Encantada com as possibilidades de caminhos na fantasia, na brincadeira, na arte, que facilitam a oportunidade de se experimentar o conceito da amamentação. Quem deseja compartilhar esta experiência? A monografia escrita no final de 2011 traz alguns detalhes e virou um livro que ponho a serviço, bem como oficinas acerca deste trabalho ( PLEC- Amamentação um direito de todos – Amigas do Peito amigasdopeito@amigasdopeito.org.br).

Beijos Maria Lúcia

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