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08 dezembro 2013

PAPAI NOEL

Ernande Valentin do Prado
Quando era criança, mas criança mesmo, entre os quatro ou cinco anos, pelo que me lembro (vocês sabem que lembrar de fato em tão tenra idade é difícil, por isso posso estar engando), morei em uma fazenda. Minha casa ficava perto da sede entre eucaliptos enormes que me assustavam quando ventava. Ao longe, do outro lado do rio e no alto de um morro, via uma casa de madeira bem grande. Diziam que tinha fantasmas lá. Que uma luz estranha aparecia em noite de luar. Sempre queria ver essa luz, mas nunca vi. Uma vez achei que tinha visto, mas meu pai disse que era o farol de um trator.
Às vezes eu ia lá com minha mãe. A casa era construída sobre tocos e ficava um vão enorme para brincar em baixo da casa, onde as galinhas se escondiam. Tinha um quintal enorme e algumas crianças (não me lembro do nome delas ou dos rostos).
No Natal, o dono da fazenda, conhecido como Nego, pai da Paula, trazia presentes para todas as crianças, filhas dos empregados.
Lembro que em um Natal eu ganhei um cavalo com rodas. Era verde e tinha um rabo enorme que quebrei na primeira hora brincando. Mas nem liguei, porque de verdade eu tinha achado aquilo absurdo: cavalo verde com rodas, onde já se viu? Havia muitos cavalos no pasto e nenhum verde com roda. Quem teria tido a ideia de comprar aquela coisa para me dar? Eu queria um caminhão de carregar cavalos. Mas enfim, não se discutia com Papai Noel.
No dia de Natal, eu fiquei sabendo que lá em cima no morro ninguém tinha ganhado presente. Fiquei indignado, (fico indignado desde criança, pelo que me lembro). Afinal o que tinha acontecido para que Papai Noel não tivesse ido até lá, sendo que ele tinha uma carroça puxada por “veados gaieiros voadores”? (Hoje dizem que Papai Noel usa um treno puxado por renas, mas para mim eram veados gaieiros).
A explicação do meu pai era que a casa era longe demais para Papai Noel e o assunto foi encerado.
Eu achava, olhando do quintal, aquela casa tão longe quanto o fim do mundo, por isso aceitei a resposta como verdadeira, mas fiquei remoendo aquilo (tanto que me lembro disso até hoje): que tipo de Papai Noel é esse que, mesmo tendo veados voadores, deixa crianças sem presentes?
Brinquei a manhã toda encucado com aquilo. À tarde formos a “casa” e levei meu cavalo verde de rodas (e agora sem rabo) para que as crianças pudessem brincar um pouco, afinal não tinha a sorte de morar em um lugar que o Papai Noel passava.

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Revisão: Cecília Mano.

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