19 maio 2013

O apocalipse zumbi

Ernande Valentin do Prado


O apocalipse zumbi é fenômeno que muitos tentaram e continuam tentando entender, mas as conclusões ainda são pequenas. A principal teoria diz que é causado por uma epidemia viral. Alguns defendem que a transmissão se dá pela mordida de um infectado. Outra teoria diz que estamos todos infectados e que basta morrer para o vírus se manifestar. 

Não há um consenso, até o momento, sobre a origem do vírus. Algumas teorias envolvem o governo, militares, corporações capitalistas e o apoio de instituições sociais e até populares. Outras teorias enfatizam, sem muitas explicações, uma geração espontânea. A primeira teoria, apesar de aparente paranoia conspirativa, parece ser a mais plausível e aceita pela maioria dos pesquisadores, sejam teóricos ou empíricos.

Todas as teorias, no entanto, frisam que o vírus é altamente transmissível e sem controle. Reproduz-se rapidamente e com potencial de infectar todos os seres humanos em pouco tempo e, uma vez infectado, este ser humano, ou ex-ser humano, passa a agir como zumbi, ou seja, sua única motivação é alimentar-se do cérebro fresco de seres humanos vivos.

As teorias divergem quanto aos alimentos dos zumbis, se apenas cérebros ou qualquer parte do corpo humano. Também divergem sobre a sua velocidade de locomoção e se podem ou não morrer de inanição se não se alimentarem de outros seres humanos saudáveis. Até onde se sabe, não há zumbis canibais, ou seja, que se alimentam de outros, mas novas teorias surgem todos os dias e não é possível afirmar com certeza. 

Se há um consenso mais ou menos estabelecido entre todas as teorias é a de que os zumbis não se lembram de quem foram, sua vida passada, história, crenças, amigos. Não sentem remorso e são capaz de comer o cérebro de amigos, parentes e até dos próprios filhos. Outro consenso, este bem estabelecido, é o de que os zumbis andam entre os vivos, engatinham, arrastam-se pelo chão e nada, absolutamente nada os fazem parar a não ser que seu cérebro primitivo, ativado pelo vírus, seja desativado com uma estaca, tiro ou esmagamento. Há outras teorias que envolvem fogo, mas não são muito enfatizadas. 

Experiências já foram feitas tentando recuperar ou curar zumbis, mas, apesar de algum sucesso em pequena amostra, não é nada promissor por enquanto. Foi tentado a convivência harmoniosa com os zumbis. A ênfase do teste era ensiná-los a alimentar-se com outros animais, mas não houve sucesso. Nos testes conseguiram fazer com que comessem carne de cavalo, vaca, cachorro, mas sempre voltavam a tentar alimentar-se com cérebro humano fresco. 

A convivência entre Zumbis e seres humanos tem sido um desafio constante. Há uma lista de situações possíveis:

A primeira reação do ser humano é violenta. Busca-se o extermínio diante de tão grotesca aberração. O que não é difícil se não tiver convivido com o zumbi antes da infecção, mas havendo a convivência anterior é fácil se comover com a situação e procurar explicações racionalizantes, humanitárias, amorosas para justificar não lhe esmagar o cérebro. Essa situação geralmente acaba com o ser humano infectado e agindo como o zumbi que procurou aceitar. Isso acontece mesmo com pessoas que antes tinham horror a zumbis. A proximidade de processos eleitorais parece favorecer essa situação. 

Outra reação comum é procurar conviver com os zumbis. Arrumam um cantinho onde imaginam que ele poderá ser útil e não provocar tanto mal. Mas a verdade é que isso não dá certo. O zumbi só pensa, 24 horas por dia, em alimentar-se de cérebro humano fresco e busca isso o tempo todo, mesmo quando parece estar com boas intenções. Sabem fazer carinha de piedade, dissimular intenções e até parecerem úteis, mas na menor distração avançam sobre o cérebro fresco. Outro complicador é que nessa situação infectados e não infectados são difíceis de diferenciar. 

Um fenômeno, que desperta pouca atenção, mas bastante comum, é aquele em que o ser humano convive muito perto de zumbis e acaba adquirindo alguns hábitos nocivos à sua condição. Em alguns casos já se observou seres humanos voltando-se contra seu grupo e agindo como zumbis, defendendo-os, justificando suas ações como naturais e inevitáveis. Neste caso são pessoas, que embora ainda não tenham morrido para se tornarem zumbis, estão já em estado avançado de contaminação, mesmo ainda não tendo feito a transformação completa. Deve-se observar de perto, tentar trazê-los à realidade ou então podem se tornar completos mortos vivos. Nessa condição, podem se passar por seres humanos e enganar muita gente. São chamados zumbis precoces e a identificação é difícil: Andam, bebem, conversam como outros seres humanos normais. A única forma de identificação é pela mania de justificar enfaticamente ações de zumbis e um certo rastejo. 

Há ainda uma terceira reação muito comum e também perigosa. Num mundo cada vez mais infestado de zumbis, a tendência é o ser humano isolar-se, passar a ficar sozinho e perder a motivação para continuar vivendo. Neste caso, a tendência é virar zumbi também, embora a transformação possa levar anos ou décadas. Estas pessoas passam a viver escondidas, fazer suas coisas sozinhas, não divulgar e não interagir com os outros. Faz isso porque perdeu a esperança na humanidade e crê que mais cedo ou mais tarde todos se tornarão ou se revelarão zumbis. Essas pessoas geralmente conviveram muito tempo perto de zumbis, passaram pelo estágio de terror, solidariedade tentando entender e/ou recuperar algum que lhe foi próximo. Geralmente identificaram a presença de zumbis precoces em determinados grupos. Conseguir trazê-los de volta à convivência com outros seres humanos é muito difícil, mas pode ser feito e parece fundamental para não deixar a humanidade sucumbir de vez.

2 comentários:

  1. Phillip Dick combinado com Mortos Vivos. Blade Runner? Alegoria dos tempos políticos? Igualitariamente igualados por baixo? O que será?

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    Respostas
    1. Phillip, Blade Runner - adoro. Eu nasci para ser ser escrito de ficção científica, mas (plagiando o evento) quando a realidade parece ficção é hora de fazer documentários. Estou convencido que estamos vivenciando o apocalipse zumbi já neste momento (não no futuro, já). As notícias do jornal nacional, do UOL e o que tenho visto nos movimentos sociais populares convenceram-me disso.

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