Foto: Maria Amélia Mano
Conheci Seu Antônio de olhar. De me olhar, leve e cansado. Olhar de criança se despedindo dos brinquedos. No meio da universidade ele, paciente, esperou horas até aparecer a turma toda para apresentar o livro do Memórias da Vila Dique, projeto idealizado pela querida Maria Amélia Mano e abraçado com carinho por várias pessoas que conheci rapidamente naquele dia.
Ele, fraquinho e magro demais, sentava paciente no fundo da sala. Foi chamado no meio da reunião. Eu filmava como ele foi se movimentando pela sala. Me emocionei sem saber bem por que.
De manhã tinha visto uma senhora "tocada pela morte" passeando na Lima com sua cuidadora. Amelia e eu nos olhamos, sabendo.
Mas com o Seu Antônio não tive essa intuição. Ele era brincalhão com a morte.
Me disseram hoje que nesse mesmo dia foi internado e nunca mais saiu do hospital. O andar cambaleante era uma dança de quem muito viveu e muito celebrou e muito foi construindo ao longo da vida.
A foto da Amelia é sobrenatural. O mundo todo em vertigem e o Seu Antônio em dança impossível, avançando à lembrança viva, à palavra plasmada.
Hoje ele faleceu. E a dança parou umas horas. Ela renasce. Sabemos bem que é assim.
Julio Wong, 17/5/13
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