Ernande Valentin do Prado
O consumidor - Ernande (2013) |
Posso dizer que o Google sabe mais de
mim (do que eu mesmo), até porque já deveria saber que ele memoriza minhas
buscas passadas, mas não lembrava (nunca fui bom de memória), por isso
espantei-me com a resposta tão eficiente do Google para Turim, como comentei no
texto anterior.
Ele “me conhece” porque pesquisa
constantemente meus gostos, meus hábitos e assim consegue ser mais eficiente
quando lhe procuro. A pesquisa sobre mim não acaba, é permanente, cada vez que
nos “encontramos” vai completando as informações, perguntando e aumentando o
banco de dados e assim tem cada vez mais o que “dizer”. Fantástico.
O google faz isso para melhor servir,
não há dúvida. Não ignoro que é por motivos econômicos, quanto melhor me conhece
melhor pode “conquistar-me” e vender-me coisas que nem preciso (principalmente).
Tudo indica que o mundo gira cada vez mais em torno disso: vender alguma coisa
que você não precisa, não vai precisar e quase sempre é produzido por alguém
que mora mal, come mal, dorme mal e não tem esperança no futuro (e ainda há
quem não crê na possibilidade do apocalipse zumbi). Quem precisa realmente de
um celular que só não frita ovo? De uma escova de dente elétrica, de Ferrari
vermelha que atinge de zero a cem quilômetros em 10.2 segundos?
O sistema aprende como lhe vender algo
que você não precisa com muita facilidade, pois entendeu (ou seus criadores) a
importância de conhecer seus potenciais clientes e antecipar seus desejos. Ele
busca informações objetivas, conta bancaria, endereço, emprego, renda familiar,
mas principalmente seus desejos, fantasias, vontades mais secretas. Fantástica
tecnologia a serviço do capitalismo alucinado, não do bem estar dos seres
humanos (embora possa ser usado com eficiente para o bem, é apenas uma questão
de opção, como outra qualquer).
A
tecnologia tanto se dá a práticas perversas, negadoras da vocação para o ser
mais de mulheres e de homens quanto a práticas humanizantes. Não cabe à
tecnologia decidir sobre a que prática servir mas aos homens e às mulheres,
fundados em princípios éticos iluminadores da ação política[1]:35.
Para conhecer o outro, saber suas
necessidades e desejos é preciso antes de tudo ouvir-lhes. O Google ouve, com
seus milhares de ouvidos, olhos e sentidos eletrônicos. Vasculha até sua
lixeira virtual, o seu íntimo e sabe melhor do que você, ou antes, do que
precisa e o que deseja. Já imaginou o potencial disso para a humanização das
relações, para melhoria dos serviços públicos, para deter o apocalipse zumbi
que já estamos vivendo?
[Ernande Valentin do Prado publica na Rua Balsa
das 10 às 6tas-feiras]
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